Quando se destrói o que está a ser bem feito…

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Quem nunca necessitou de ser cuidado ou de cuidar de alguém em contexto de saúde ou em situações de dependência? Um país envelhecido como o nosso e impreparado em termos de respostas sociais para responder ao envelhecimento progressivo não pode dar-se ao luxo de, numa decisão abrupta, sem qualquer aviso ou comunicação prévia, extinguir o Centro de Competências para o Envelhecimento Ativo (CCEA).

Criado em 2023, com o objetivo de formação e capacitação dos cuidadores e cuidadoras de pessoas mais velhas e de apoio às políticas do envelhecimento activo, o CCEA é apontado como exemplo a seguir pelos países da União Europeia e UNECE (Comissão Económica das Nações Unidas para a Europa). Portugal possui um plano de ação que o levou a ser destacado em termos internacionais como o primeiro país a ter um programa multissetorial que está a servir de modelo para vários outros, até por ter foco não na longevidade, mas na melhoria da qualidade de vida das pessoas.

Contudo, o Governo entendeu substituir a palavra “envelhecimento” por “longevidade”, como se para atingir a longevidade não fosse necessário envelhecer!

O CCEA tem, na sua sede em Loulé, 21 pessoas a trabalhar e mais duas em cada polo aberto em 17 distritos do país. Possui uma equipa multidisciplinar com enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas, assistentes sociais e gerontólogos, para garantir qualidade e especialidade multidisciplinar. No ano de 2024, formou 5000 cuidadores em todo o país. Foram criados cursos grátis, para cuidadores formais e informais, de cuidados aos adultos mais velhos, nutrição, prevenção da violência, cuidados com a demência, entre outros, sendo a oferta ajustada às solicitações dos cuidadores.

Além deste trabalho tão necessário, o CCEA apoia ainda a implementação do Plano de Ação do Envelhecimento Ativo e Saudável, com ações preparadas para as escolas, ações de prevenção em saúde e bem-estar, estimulação cognitiva para a prevenção da demência, walking football, apoio aos municípios para implementação no país de uma política de proximidade que chegue às pessoas (estando em elaboração mais de 60 planos municipais de envelhecimento), empoderamento sénior com a criação dos conselhos municipais da vida sénior, difusão de informação para que os apoios cheguem efetivamente aos mais necessitados, caso do Complemento Solidário para Idosos (CSI), o programa de saúde oral grátis para as pessoas mais velhas, sistema de transporte para acesso à saúde, entre outras atividades.

Ficámos a saber que tudo isto foi extinto, no passado dia 26 de novembro, pelo actual Governo, que parece querer privilegiar uma visão meramente assistencialista e redutora do envelhecimento ativo, ignorando o papel de oportunidade e de possibilidades de atuação múltipla que deve ter. A APRe! lamenta a destruição daquilo que está a ser bem feito, ao ser cancelado todo um trabalho, em curso, de contributo para a mudança estrutural da sociedade portuguesa, colocada em causa com esta extinção do CCEA.

Maria do Rosário Gama

Presidente da Direcção da APRe!

Artigo de opinião publicado no jornal Público