A tecnologia promete aumentar a autonomia de uma sociedade a envelhecer. E dar aos fabricantes um mercado em crescimento.
Os automóveis autónomos prometem transformar o sector automóvel e a vida de milhões de pessoas, que em vez de um volante passarão a ter mais tempo nas mãos, e que poderão optar por aplicações com frotas de carros-robô em vez de ter um carro próprio. A tecnologia, porém, não será apenas para os mais novos, nem para os entusiastas dispostos a tirar os olhos da estrada para passar ainda mais tempo no email ou nas redes sociais. Aqueles para quem a condução passa a ser um problema à medida que a idade avança são um dos grupos que poderão tirar dividendos do investimento tecnológico que as empresas estão a fazer.
Um dos objectivos da Toyota (o maior fabricante do mundo em termos de carros produzidos) é “tornar os carros mais acessíveis, incluindo para uma sociedade que está a envelhecer”, explicou ao PÚBLICO Jim Adler, director da Toyota AI Ventures, um braço de capital de risco da marca nipónica, cuja tarefa é investir em startups que trabalhem em áreas como a robótica ou a inteligência artificial. A conversa aconteceu na Web Summit, em Lisboa.
O problema está bem diagnosticado: “À medida que ficamos mais velhos, pode ser uma questão de orgulho continuarmos a conduzir, mas pode não ser seguro. E os mais velhos querem conduzir também por uma questão de autonomia”, observou Adler. O problema deixará de existir se for o carro a assumir a tarefa.
Isto significa também que os fabricantes de carros poderão vir a chegar a uma nova faixa de clientes, especialmente em regiões do mundo que estão a envelhecer, como é o caso do Japão (onde o Governo está a testar autocarros autónomos para idosos em zonas rurais), dos EUA e de muitos países europeus. Números da Comissão Europeia estimam que, até 2030, um quarto da população dos países da União tenha 60 ou mais anos. Em 2060, 12% terão, pelo menos, 80 anos. “É um mercado enorme”, resume Adler. Recentemente, a Toyota investiu numa startup israelita que desenvolve robôs para acompanhar idosos. Para além do potencial de negócio, explicou Adler, parte tecnologia poderá vir a ser incorporada em automóveis.
Não é certo quando chegarão os carros inteiramente autónomos às estradas, mas ninguém parece duvidar de que acabarão por chegar. A tecnologia está, essencialmente, pronta para circulação em auto-estrada. As cidades, porém, com o caos de pessoas, semáforos, obras e todo o tipo de imprevistos são um problema maior para a inteligência artificial. E há questões legais, regulatórias e éticas para ultrapassar.
Num debate em que participou na Web Summit, Adler apontou 2050 como uma data possível. Na outra ponta do sofá havia mais optimismo: o presidente da ClearMotion, uma empresa que desenvolve carroçarias, que usam algoritmos para se adaptar em tempo real às circunstâncias, afirmou que seria já em 2020. No meio ficou o executivo da Porsche Philipp von Hagen: “Algures entre essas duas datas.”
Haverá, em qualquer dos casos, um período de transição. No veículos privados – que podem durar mais de uma década nas mãos dos donos (na União Europeia, a média é de quase 11 anos) – “vai ser lento”, reconheceu Adler. Mas argumentou que plataformas como a Uber funcionam como aceleradores: “Tipicamente os carros são conduzidos 4% do tempo. Um táxi é conduzido dez vezes mais, pelo menos. Talvez os carros tenham de ser substituídos mais vezes, porque o uso vai aumentar. Isso vai forçar os fabricantes, como a Toyota, a andarem mais depressa.”