Conferência tem de superar saída dos EUA de Paris

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Síria anuncia intenção de aderir ao acordo assinado em França na cimeira de 2015.

Parece uma ironia que as conversações do clima desde ano, a COP 23, que arrancaram esta semana em Bona, ocorram a escassos 50 quilómetros de uma das minas de carvão a céu aberto mais poluidoras da Alemanha. Mas é a realidade, talvez a lembrar que na batalha para travar as alterações climáticas há muito ainda por fazer. Uma luta que ganhou ontem mais um apoio: a Síria anunciou a intenção de aderir ao Acordo de Paris contra as alterações climáticas, ficando os Estados Unidos sozinhos na decisão de abandonar o compromisso assinado em dezembro de 2015.

A coincidência já serviu, aliás, para os ambientalistas saírem à rua na antiga capital da Alemanha Ocidental (dos tempos da Alemanha dividida), exigindo o encerramento da mina e o fim da utilização do carvão, que é uma das principais fontes das emissões de gases com efeito de estufa que estão a acumular-se na atmosfera e a causar as alterações climáticas – o CO2 bateu este ano novo recorde, chegando a 403,3 ppm, algo que já não se via há mais de 800 mil anos. Descarbonizar, portanto. É isso, afinal, que está em causa para as próximas décadas. Começar a definir esse roteiro, no âmbito do Acordo de Paris, é a questão em cima da mesa na conferência do clima deste ano.

Ainda a ganhar balanço, depois de ter arrancado na segunda-feira, a COP 23, de Conferência das Partes da Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, tem agora pela frente uma semana e meia de trabalhos, e se tudo correr bem poderá desembocar, no dia 17, num primeiro esboço do que há de ser o programa detalhado para concretizar o Acordo de Paris, que terá de ficar selado dentro de um ano, na COP 24, na Polónia, para começar a ser aplicado a partir de 2020.

Numa conferência que tem a particularidade de ser presidida pelo representante de um dos pequenos estados do Pacífico, os que são mais vulneráveis à subida do nível do mar por causa das alterações climáticas, o primeiro-ministro da República das Fiji, Frank Bainimarama, os participantes terão de unir-se em torno do Acordo de Paris. Esse espírito ficou expresso nestes primeiros dias, quando o presidente da conferência se dirigiu aos delegados, afirmando: “Este é o nosso momento da verdade, para nos unirmos com todas as outras nações e para avançarmos juntos.”

Avançar significa começar já a desenhar os mecanismos do Acordo de Paris: estabelecer o esquema para no próximo ano cada país estabelecer metas mais ambiciosas de corte de emissões e definir os mecanismos e os financiamentos para a adaptação e a compensação por danos decorrentes da mudança do clima. Esta é uma COP de transição, mas para ser produtiva terá, no dia 17, de mostrar um primeiro esboço de programa para o futuro.

Filomena Naves

Ler mais em DN, 08-11-2017