ALGUÉM PENSA QUE SCHÄUBLE MUDOU DE OPINIÃO? ELE NÃO GOSTA DO GOVERNO PORTUGUÊS, NÃO GOSTA DA POLÍTICA ECONÓMICA DE CENTENO E NUNCA NOS FACILITARÁ A VIDA
Vai por aí um grande entusiasmo porque o ministro alemão das Finanças terá dito que Mário Centeno é “o Ronaldo do Ecofin”, segundo a newsletter “Playbook” do site “Politico”, exclamação que lhe terá vindo à boca depois de a Comissão Europeia aprovar o início do processo da saída do Procedimento por Défice Excessivo e depois de sucessivas boas notícias sobre o crescimento económico para este ano (que pode mesmo ultrapassar os 3%) e a redução do défice (que pode ficar abaixo de 1,5%, a meta oficial). Eu peço desculpa mas mesmo após a vinda do Papa a Portugal e a canonização dos pastorinhos, não acredito nesta conversão do sr. Schäuble. Em primeiro lugar, é uma declaração por interposto site e cochichada a alguém mas não declarada de forma pública. Schäuble só defendeu até agora publicamente um ministro das Finanças: Jeroen Dijsselbloem, que ocupa esse cargo na Holanda e preside ao Eurogrupo, função para a qual o ministro alemão o apoiou. E saiu publicamente em defesa de Dijsselbloem quando este resolveu dizer que “não se pode gastar todo o dinheiro em copos e mulheres e depois pedir ajuda”, referindo-se obviamente aos países do sul da Europa. O ministro de Merkel aproveitou mesmo o ensejo para sublinhar o seu apreço pela forma como Dijsselbloem tem desempenhado as funções do presidente do Eurogrupo, onde na prática tem sido o eco das posições alemãs sobre a forma de resolver a crise, excluindo qualquer outra abordagem de políticas económicas que não a receita defendida pelos duros de Berlim.
Ora, em 30 de junho de 2016, o que dizia Schäuble? Portugal está a pedir “um segundo programa” [de ajuda] e “vai consegui-lo”. Depois, corrigiu: “Os portugueses não o querem e não vão precisar [de um segundo resgate] se cumprirem as regras europeias”, precisou, acrescentando: “Eles têm de cumprir as regras europeias ou então vão ter dificuldades.” Em outubro, afirmou que “Portugal vinha tendo muito sucesso até [à chegada de] um novo Governo” que declarou “que não iria respeitar o que os compromissos com que o anterior Governo se comprometeu”. Em 14 de março de 2017, Schäuble insistia: “O meu alerta para Portugal é: certifiquem-se de que não será necessário um novo programa” de assistência financeira.
Alguém pensa que em dois meses Schäuble mudou de opinião e considera que as ideias de Centeno teriam sido uma boa alternativa, aquelas que sempre advogou para combater a crise que se abateu sobre a zona euro? E alguém o ouviu defender publicamente que Centeno deveria presidir ao Eurogrupo, o verdadeiro centro de poder? Entendamo-nos: Schäuble não gosta do Governo português, não gosta da política económica de Centeno e nunca nos irá facilitar a vida. Acreditar que disse mesmo a sério que “Centeno é o Ronaldo do Ecofin” releva da mais santa ingenuidade.