Sentadas nas galerias reservadas para o público na casa da Democracia, estes estudantes puderam assistir a um dos momentos altos da vida parlamentar, o debate quinzenal. Mas o que puderam ver lá em baixo não foi nada de elevado recorte civilizacional. Um líder do Governo e um líder da Oposição em toca de acusações com “enlamear”, “mal-educado”, “vil reles e soez” à mistura, com as bancadas transformadas em verdadeiras claques com palmas e pateadas ao melhor estilo “hooligan”. Ideias poucas, argumentos quase nenhuns, naquele que foi um dos debates mais crispados deste último ano e meio.
Os professores que, nos dias que correm, têm enormes dificuldades em conter dentro do razoável o comportamento dos seus alunos, terão visto ali um cenário habitual. As crianças, depois da estupefação inicial, terão pensado que, perante aquele exemplo, tudo lhes será permitido. Afinal aqueles são os nossos representantes, alguém em quem delegamos a condução do nosso destino coletivo, os nossos líderes…
O mais inquietante é que o que se passa “na “bolha” de São Bento está longe de ser um reflexo do que acontece cá fora. Se excetuarmos as redes sociais, onde grassa a selvajaria, a sociedade portuguesa tem dado poucos sinais de crispação.
Até se pode entender que a Oposição que pintou a atual solução governativa como radical, force alguma dramatização contra a normalidade que tem no presidente da República o seu principal arauto. Mas é incompreensível que o Governo embarque nesse jogo e que todos os deputados não tenham a consciência do péssimo serviço que prestam à democracia quando substituem a luta argumentativa pelo insulto e pela javardice. Comportamentos como os de quarta-feira só servem para o descrédito do sistema, merecem o nosso repúdio e dão uma enorme vontade de dar umas palmadas a estes meninos malcomportados.
David Pontes
Opinião JN 10.03.2017
Leia mais: Tautau na democracia