Estamos num outro período da indiferença e do desespero humanos. O turbilhão de nomes de países e de povoações onde estes crimes medonhos ocorrem abre um novo e terrível capítulo na história da condição humana.
Claro que os actuais vinte e sete têm obedecido, por vezes com desagrado, às indicações dadas pela direcção-geral. Mas esta direcção, um pouco disseminada e, acaso, manobrada e manobradora, tem somente servido interesses que se não coadunam com as necessidades colectivas. A manifestação de quase subserviência pela Alemanha e por aquilo que ela aparentemente representa tem sido uma característica da mansuetude dos vinte e sete países da União. Porém, as coisas não são assim tão cabisbaixas como aparentam. E a imprensa internacional, pressurosa em calar, ou não divulgar, a surda inquietação que vai pelos restantes países europeus, está a causar um prejuízo maior, muito maior do que se presume, à organização.
Agora, contrariando princípios e perspectivas, a Hungria manifestou o seu desacordo pelos caminhos tomados pela União, erguendo fronteiras, longas fronteiras, de ferro e arame, impedindo a longa caminhada de todos aqueles, milhões e milhões, que pretendem fugir à tragédia que se verifica nas suas nações. Na era moderna, este êxodo é o mais trágico registado até hoje. E a indiferença que se manifesta, sem pudor e com a maior das desumanidades, caracteriza uma época que trai os princípios fundamentais do humanismo e da compreensão entre os povos.
Os princípios fundamentais com os quais a União Europeia se fundou estão dizimados. Os grandes interesses económicos sobrepõem-se ao humanismo mais elementar, fundado após a Segunda Guerra Mundial. A decisão dos dirigentes húngaros em erguer linhas de arame farpado em todo o seu território fronteiriço é um escândalo inominável, pelo que representa de separação e de humilhação humanas. Na história recente das afrontas generalizadas, nada de semelhante se lhe aproxima. E é bom que tenhamos em conta esta violência quase generalizada contra a nossa condição cada vez mais desesperada e afrontada.
O mundo está cada vez pior. As relações entre as pessoas deterioraram-se a tal ponto que chegam a descer às mais afrontosas relações pessoais. Todos os dias chegam notícias do desespero humano. O que se passa, por exemplo, em Calais tem sido minimizado ou calado pelos órgãos de comunicação social. As guerras que ocorrem deixaram de ser factos localizados: são medonhas ofensas à condição humana. Com milhões de mortos a atestar a indiferença generalizada, que apenas se manifesta quando é pessoal. E mesmo assim…
Estamos num outro período da indiferença e do desespero humanos. O turbilhão de nomes de países e de povoações onde estes crimes medonhos ocorrem abre um novo e terrível capítulo na história da condição humana. Não temos, somente e cautelosamente, de procurar respostas para estes inomináveis crimes contra a humanidade, é urgente que se procure e se apontem os nomes dos causadores. E que sejam punidos pela execração e pela enormidade dos crimes cometidos contra a humanidade. Contra todos nós.