O idadismo ou abuso dos mais velhos refere-se às atitudes e práticas negativas generalizadas em relação aos indivíduos baseadas somente numa característica: a idade. As atitudes idadistas em relação às pessoas mais velhas assumem componentes essenciais. Em primeiro lugar, o idadismo está associado às crenças, numa determinada idade como um grupo homogéneo, aos estereótipos que temos relativamente ao grupo das pessoas idosas. Refere-se à tendência para percebermos todas as pessoas de uma determinada idade como um grupo homogéneo, que se caracteriza, muito frequentemente, por determinados traços negativos, como, por exemplo, a incapacidade e a doença. Em termos gerais, a representação dos mais velhos está ligada aos aspectos negativos: “doentes, incapazes, esquecidos, lentos, coitados” e são estas imagens que prevalecem sobre os aspectos positivos: “sábios, maduros, sociáveis, sagazes, avós”.
É frequente ouvir-se dizer: “deixa estar a avó, coitadinha ela já não pode”. A sociedade não tem em linha de conta as mais-valias dos mais velhos: o saber acumulado, a ajuda às famílias e a chamada economia grisalha.
A discriminação social dos mais velhos é observada em Portugal, segundo Sibila Marques, em Discriminação da Terceira Idade, editado pela FFMS em 2011.
O caso extremo de discriminação em relação aos idosos é, sem dúvida, o abuso. Os tipos de abuso reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde podem ser tipificados como: abusos físicos, psicológicos, financeiros, sexuais, abandono.
A publicação “O abuso e a saúde dos mais velhos na Europa”, publicado em 2010 com o apoio financeiro da Comissão Europeia, ISBN 978-9955-15-194-4 (1), refere que, nos países estudados (Alemanha, Suécia, Lituânia, Grécia, Espanha e Portugal), as maiores taxas de abusos sexuais ocorrem em Portugal (1,3%) e na Grécia (1,5%), e os abusos financeiros são mais elevados em Portugal (7,8%) e em Espanha (4,8%). Quanto aos abusos psicológicos, são mais elevados na Suécia (29,7%) e na Alemanha (27,1%).
O tipo de abuso difere de país para país. Face aos alemães, os idosos gregos, italianos, portugueses e espanhóis têm um risco menor relativamente aos riscos psicológicos; os portugueses e italianos sofrem um risco menor em termos de abusos físicos, mas, em contrapartida, os idosos portugueses sofrem risco elevado quando se trata de abusos financeiros. Dos resultados obtidos neste estudo os participantes recomendam a nível da União Europeia o seguinte:
- A legislação que estabelece a protecção dos idosos contra os abusos deve ser actualizada e desenvolvida e, consequentemente implementada.
- Campanhas multinacionais sobre o abuso de idosos para o público e para grupos específicos;
- Planos multinacionais englobando vários aspectos de abusos devem ser implementados;
- Recursos financeiros devem ser afectados a projectos de investigação e a ONGs que trabalhem nesta área.
- Criação de um centro de investigação multinacional que investigue os vários aspectos de abusos.
Estas recomendações são, sem dúvida, relevantes mas é também necessário mobilizar a sociedade no combate aos abusos contra os idosos. A criação de boas práticas e a “promoção de acções intergeracionais que permitam aumentar as oportunidades de contacto positivo entre pessoas idosas e os outros grupos etários são importantes para diminuir atitudes discriminatórias e prevenir os abusos” refere Sibila Marques.
(1) Estudo realizado com a participação de Henrique Barros professor da Universidade do Porto
Maria das Dores Ribeiro
Observatório do Envelhecimento APRe!, Newsletter nº3