Esta chamada de atenção, há vários anos inscrita nas escadas de acesso ao parque de estacionamento do Martim Moniz, acaba por passar despercebida, dada a sua localização. A imagem que acompanha a expressão, mais do que uma ilustração, é uma legenda e uma forma de atrair o olhar de quem sobe as escadas.
A brincadeira linguística entre “arma de destruição maciça” e “arma de distração maciça” funciona ironicamente como ponto de partida para uma reflexão sobre para que serve a televisão e que efeitos colaterais provoca.
Como um anestésico ou qualquer outro medicamento, a televisão deveria vir acompanhada da respetiva bula, com indicação dos efeitos terapêuticos, da posologia e modo de usar, das contraindicações e, ainda, das recomendações em caso de excesso medicamentoso ou intoxicação aguda.
Como com qualquer outro ansiolítico, recomenda-se uso moderado da televisão. Quando bem utilizada pelo próprio e bem pensada pelos responsáveis do canal, a televisão pode prestar um verdadeiro serviço público (sendo pública ou privada), ao proporcionar programas, de informação ou entretenimento, de qualidade. Porém, quando consumida em excesso, e sobretudo sem sentido crítico, ou quando as audiências se mantêm à custa da total ausência de qualidade, a televisão acaba por fazer serviço público, não em prol do público, mas de um estado que beneficia da alienação da maioria da população. Torna-se, assim, exatamente uma poderosíssima “arma de distração maciça”, uma arma que elimina por completo o pensamento crítico e educa o povo no sentido de o manter abstraído do acontecer público, acabando, no fundo, por formar uma massa amorfa, pronta a ser moldada no sentido político que mais convier à alternância política no poder.
São estes os efeitos secundários indesejáveis de que deveríamos ser prevenidos quando, na infância, nos habituamos a ver, acriticamente, desenhos animados e crescemos com a ideia de que, dentro da televisão, há um mundo maravilhoso à espera de ser explorado. Felizmente, a qualidade dos desenhos animados melhorou muito, também do ponto de vista estético, mas sobretudo no que respeita aos conteúdos, às mensagens que são veiculadas e à forma como o são, já não «infantilizando» tanto as crianças (ou «popularizando-as», como no tempo dos contos para as crianças e para o povo).
No entanto, seria muito importante que as pessoas fossem informadas, pelos fabricantes destes «medicamentos», sobre as precauções especiais a tomar em caso de utilização, recomendando uma utilização com precaução.
Ora, esta “arma de distração maciça”, ao neutralizar as almas mas não os corpos, transforma as pessoas em máquinas obedientes, vivas por fora mas mortas por dentro, tal como magistralmente as descreve Lobo Antunes, numa poderosa imagética: “O «piriquito» morreu após anos e anos na gaiola (…). Nisso era igual a quase toda a gente só que as pessoas são, ao mesmo tempo, a gaiola e o pássaro e portanto acabam dentro de si mesmas.” O que se passa, no fundo, é que os homens “já estão mortos atrás dos olhos”, já estão presos dentro de si mesmos, mas “julgam que ainda não faleceram”…
Assim, ao contrário de outras situações, em caso de esquecimento da toma, adverte-se o paciente para, ao contrário de outras situações, não tomar este psicotrópico assim que possível. Aliás, será altamente recomendável que não o tome, preferencialmente nunca mais. Basta, para tal, que pense um pouco. E isso nem sequer custa muito…
Maria Eugénia Leitão