Mais de 18 idosos por semana pedem ajuda à APAV. Na maior parte dos casos, os agressores “são pessoas muito próximas”, nomeadamente filhos e netos, que “conhecem muito bem as suas vulnerabilidades e fraquezas”.
Mais de dois idosos recorrem diariamente à Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, muitos vítimas dos filhos e dos netos que se apropriam dos seus bens e das suas economias.
Em 2015, a APAV apoiou 977 idosos vítimas de crime, mais 125 face ao ano anterior, representando uma média de 2,7 por dia e 18,7 por semana.
Muitos destes idosos foram vítimas de violência financeira, um crime que “tem aumentado nos últimos anos, especialmente devido à situação da crise financeira”, disse Daniel Cotrim, da APAV, que falava à agência Lusa a propósito do Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosa, que se assinala esta quarta-feira.
O psicólogo explicou que os idosos são “vítimas relativamente fáceis”, sendo que na maior parte dos casos os agressores “são pessoas muito próximas”, nomeadamente filhos e netos, que “conhecem muito bem as suas vulnerabilidades e fraquezas”.
“São muito mais fáceis de manipular e de exercer poder e controlo sobre eles, o que faz com que sejam vítimas de “muita violência financeira”, além de violência física e psicológica.
Daniel Cotrim contou que os agressores ficam com o rendimento dos idosos, chegando mesmo a retirá-los dos lares onde residem para ficar com o valor da mensalidade para apoiar o rendimento mensal da família.
Segundo o responsável, “a apropriação indevida de bens materiais e económicos dos idosos por parte dos seus familiares” é um dos motivos que leva muitas vezes as vítimas a pedirem ajuda à associação.
Mais de 80% das vítimas são mulheres
Mas geralmente fazem-no “já muito tempo após as situações terem começado”, lamentou. Por isso, “é importante prevenir”, sensibilizando as pessoas mais velhas para estas questões, explicando-lhes os perigos que correm.
Sobre o aumento do número de idosos apoiados pela APAV, o psicólogo disse que pode dever-se ao facto de as pessoas estarem mais sensibilizadas e mais informadas para este tipo de questões e denunciarem mais, mas também pode demonstrar que o problema ter aumentado.
Segundo dados da APAV relativos a 2015, 80,5% destas vítimas são mulheres, com uma média de idade de 75 anos.
Quase 40% das vítimas (39%) viviam numa família nuclear com filhos, 58,4% eram casados e 29,5% eram viúvos. A grande maioria (90,1%) era reformada.
Quanto à escolaridade das vítimas, os dados indicam que 33,3% das vítimas tinham o primeiro ciclo do ensino básico, 19,2%, o ensino superior e 13,3% não sabia ler nem escrever.
No Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência Contra as Pessoas Idosa, Daniel Cotrim apela às pessoas e aos idosos vítimas para denunciarem este crime.
“A APAV tem um número gratuito (116006)” para pedir apoio, “porque falar ajuda”, frisou.