O açoite de Bruxelas

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O aluno bem comportado tornou-se rebelde e, agora, porta-se mal. Pois é. O aluno elogiado em Bruxelas, exemplo a seguir, descambou. Sendo assim, merece um castigo. É isso que os tecnocratas da União Europeia decidem neste momento. Quantas reguadas vamos aplicar ao menino que ultrapassou o défice combinado?

Os tecnocratas de Bruxelas leem os números, são excelentes nessa nova arte, mas demonstram dificuldades em perceber o que esses números de facto significam. Os tecnocratas de Bruxelas são como aqueles paizinhos excessivamente exigentes com os filhos e, todavia, não sabem dar o exemplo. Pior ainda. São como aqueles pais que obrigam os filhos a estudar para os testes, mas nos dias anteriores impõem tarefas intermináveis, inviabilizando, por essa forma, qualquer possibilidade de estudo.

Bruxelas exigiu ao aluno, então bem comportado, uma resolução para o Banif e agora faz vista grossa aos custos espoletados por essa decisão. Devido ao processo Banif, o Governo fechou o ano com um défice de 4,4 %, bem acima, portanto, dos 3% estipulados no Pacto de Estabilidade e Crescimento.

Se não cumpre, terá de sofrer os respetivos açoites: assim a Direita, maioritária na Europa, deseja ver Portugal. Sob mão pesada, de novo. E uma dúvida logo se levanta. Se em vez de um Governo apoiado pela Esquerda estivesse no poder a anterior maioria PSD/CDS-PP, Bruxelas surgiria coma a mesma atitude persecutória? Sabemos apenas uma coisa: é a primeira vez que Bruxelas admite castigar um Governo por défice excessivo.

Com esta delicadeza antiga, os ricos tratam os pobres. Já deixaram de comer bifes, de comprar sapatos novos. Deixaram o fogão a gás e passaram a cozinhar num fogão a lenha, com combustível catado, às escondidas, nas matas do patrão. Não chega. É preciso poupar mais. Desde que os juros da dívida continuem a olear os balanços da Banca europeia, os pobres, enfim, bem podem passar a comer meia sardinha e andar de novo descalços. Não faltará muito.

O emprego criado no último ano dá remunerações pouco acima dos 500 euros. Os licenciados são os que mais dificuldades têm, neste momento, em encontrar posto de trabalho. Pouco interessa aos senhores lá em Bruxelas, especialistas na leitura dos números.

Paula Ferreira
Opinião JN 17.05.16