Um dia, acaba-se a paciência para as perguntas. E é nesse dia que os regimes começam a soçobrar. O nosso vai por esse caminho. Porque não há uma única pergunta sobre o Banif que tenha uma resposta decente. É tudo demasiado mau, demasiado esquivo, demasiado pormenorizado nos milhões para sabermos o que verdadeiramente sucedeu aos milhares de milhões.
O que é que sabemos, mas que sabemos mesmo? Que o Governo teve que vender à pressa o Banif. Que este negócio de venda (sim, de venda, não de compra) custará aos contribuintes pelo menos três mil milhões. Que o Banif foi intervencionado pelo Estado, que detinha 60% do controlo do banco, que por sua vez tinha as contas todas controladas. Segundo a administração, o anterior Governo e o Banco de Portugal, claro. Sabemos que a fatura que temos vindo a pagar pelos desmandos da banca (BPP, BPN, BES e mais) já ultrapassa uns simpáticos 40 mil milhões. (É obra, mais de metade do que pedimos à troika.) E sabemos que nunca se apuram os responsáveis.
Vamos lá a este: o primeiro-ministro dizia ontem, em entrevista ao JN, que a herança do Governo anterior foi pesada e que a troika andou mais empenhada em revirar as contas das juntas de freguesia do que em vigiar a banca. E que a solução que encontrou foi a melhor.
O ex-presidente do Banif, Jorge Tomé, confessou que ficou surpreendido com a venda e que o processo foi desastroso. Também não sabia de nada. O ex-primeiro-ministro Pedro Passos Coelho não diz grande coisa sobre o que andou a fazer, mas não teria solução melhor. A ex-ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque, terá tentado tudo, mas Bruxelas não deixou. O atual ministro diz que falou com toda a gente, administração incluída. A administração afirma que foi apanhada de surpresa e que desconhecia tudo. Paulo Portas, claro, votou contra a solução do PS. Mas também não devia saber de nada. O governador do Banco de Portugal, quem verdadeiramente tem a responsabilidade de vigiar, que gere 1600 funcionários justamente para vigiar (sim, também estão atentos à cotação do ouro), emite uns comunicados, seguramente comunicando que fez tudo o que estava ao seu alcance.
Confusos?
Não se macem muito. Ficarão mais. A Procuradoria há de investigar alguma coisa. Uma comissão parlamentar de inquérito fará brilhar um ou dois deputados mais afoitos. E, um dia desses, um qualquer governo há de aprovar um regime extraordinário de exceção para que empresários, administradores, intermediários, e outros, cá coloquem o dinheiro que literalmente saquearam com uns projetos imobiliários que ou não saíram do papel ou nunca lá estiveram. Há muito disso no Banif. Alguém os aprovou. Alguém os financiou. Alguém os assinou.
E alguém os devia ter vigiado.
E dizem que o Pai Natal não existe. Existe, pois, mas só para alguns.
Domingos de Andrade
Opinião JN 26.12.2015