Muito se tem falado de indecisos e abstencionistas e pouco sobre as causas para tanto desencanto. As sondagens, valham elas o que valerem, demonstram-no todos os dias. Anteontem, na televisão, o músico João Gil confessava que há quatro eleições que vota em branco por não se rever em programas, discursos ou lideranças. E o problema é mesmo esse, lideranças. É vulgar, mesmo banal, a conversa à mesa do café do “são todos iguais”. Talvez sejam. Mas a culpa é nossa, cidadãos eleitores, que somos pouco exigentes. A cada eleição que passa, confrontamo-nos com a lengalenga de quem tudo promete em troca de um voto e depois, alcançado o objetivo, não hesita em rasgar o contrato de confiança assinado com quem votou em nome de pretensas surpresas escondidas que transformam aquilo que antes eram facilidades em coisas impossíveis. As eleições de 4 de outubro são, provavelmente, as mais importantes dos últimos 20 anos, depois de termos sobrevivido a um resgate de violência tão extrema como nunca tínhamos enfrentado. Importa pouco, com franqueza, voltar hoje à discussão do “de quem é a culpa”. Esse foi assunto arrumado em 2011. O passado é importante apenas, e não é coisa pouca, como referência de aprendizagem para que os erros não se repitam. Mas aquilo que se vai jogar daqui a menos de uma semana é o futuro, o nosso futuro. Como crescer economicamente e criar emprego, como garantir a sustentabilidade da Segurança Social e as reformas futuras, como assegurar que ninguém que precise de cuidados de saúde ou queira estudar fique para trás, como atestar que quem carece de aceder à justiça não fica à porta de um tribunal. É isto que interessa. Mas quem passe os olhos ou os ouvidos pela campanha eleitoral nota que quem pede o voto está mais interessado nas gafes adversárias ou nas contradições alheias. Dir-se-á que foi sempre assim. Talvez tenha sido. Mas é por causa de tudo isto que a confiança na política e nos políticos anda pelas ruas da amargura. Importa pois que sejamos exigentes. E isso implica que ninguém fique em casa. Votar é um direito e um dever, lá diz o chavão. Porque como diz Patrícia Resende, 18 anos e aluna de 20 acabada de entrar em arquitetura, hoje no DN “não ir votar é como deixar à escolha dos outros a roupa que vou vestir amanhã”.
Nuno Saraiva
Opinião DN 23.09.2015