De acordo com o Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS), cerca de 110 mil pessoas estão em Portugal dependentes no autocuidado no domicílio, estando cerca de 48 mil acamadas, o que significa que estão fisicamente impedidas de desempenhar actos simples e essenciais como vestir-se, tomar banho ou alimentar-se.
Em suma: “As vagas da rede representarão menos de 30% das necessidades actuais e ainda menos das expectáveis necessidades futuras relacionadas com o envelhecimento populacional em Portugal.”
O relatório é, no mínimo, alarmante.
E deve fazer-nos pensar, e muito, sobre as gritantes assimetrias do nosso país, onde ser velho ou deficiente é cada vez mais uma realidade dolorosa e angustiante; mas não menos doloroso e angustiante é viver numa sociedade que os ignora ou não lhes confere a dignidade mínima de sobrevivência.
Não podemos orgulhar-nos de estatísticas económicas e orçamentais quando os dados sociais são tão preocupantes; não podemos condenar quem já está naturalmente debilitado e incapacitado; não podemos ignorar quem não tem voz para se fazer ouvir.
É para isto, desde logo, que o Estado existe e nós pagamos impostos: proteger os mais carenciados e assegurar-lhes uma vida digna.
Sem isso, seremos uma sociedade vazia do mais elementar valor: solidariedade. E com um silêncio ensurdecedor dos mais necessitados.
Luís Gonçalves da Silva