“Reformas estruturais” ou “programas de ajustamento estrutural” é um termo burocrático inventado pelo FMI. É muito usado por muitos e muitos esqueceram entretanto de onde vinha, mas a origem é mesmo essa. Para o FMI, se as não há, isto é, se o governo em funções não é “amigo”, é preciso fazê-las; se as há, isto é, se o governo em funções é “amigo”, muito bem, mas é preciso ter calma porque os efeitos levam tempo; se o governo é amigo mas há eleições à porta, é preciso, então, reforçá-las, não desistir delas. Os burocratas que inventaram o termo são, normalmente, licenciados em economia, alguns com doutoramento, com experiência de trabalho em instituições internacionais, como o FMI, e raramente em universidades, muito menos de topo. Ainda há pouco veio um a Portugal. Ora, acontece que em economia tudo é quantificável. Onde estão as quantidades, então? Nada, zero. No máximo, têm uns modelos com 10 variáveis, metade das quais “dummies” (falsas, portanto, embora quando bem usadas são úteis) e 140 países, algures no passado. Mas nunca, jamais em tempo algum têm uma avaliação directa do impacto das “reformas” que obrigam (ou nem tanto) alguns países pelo mundo fora a pôr
em lei. Nada. Depois, viajam e falam e falam e viajam e dizem sempre o mesmo. À espera de uma promoção que os livre do país que não se “reformou”. E as redacções e os jornalistas menos entendidos em economia e na história destas coisas, como acontece em Portugal, lá vão dando eco – seria bom, no entanto, que começassem a tentar perceber quanto do que reportam ficará na história.
Pedro Lains
blogue http://pedrolains.typepad.com/ 18 MARÇO 2015