A REPRESENTAÇÃO DOS IDOSOS E TAMBÉM DOS OUTROS DESFAVORECIDOS
Sábado passado, 28 de Dezembro de 2013, o Expresso, na página 21 do seu primeiro caderno, publica declarações de Manuel Villaverde Cabral, director do Instituto de Envelhecimento da Universidade de Lisboa, em que, entre outras declarações, afirma que os idosos em Portugal não estão representados. E, respondendo a uma pergunta formulada, diz que não considera a APRe! minimamente representativa dos três milhões de reformados e pensionistas, avançando com o argumento de que é uma associação onde há pessoas com pensões milionárias. Acrescenta que são “pessoas superqualificadas, bem colocadas no sistema social português e todas com acesso aos media”. A APRe! responde no seu blogue publicando uma carta de resposta enviada ao Expresso, que pode ser lida aqui:
https://www.apre-associacaocivica.pt/2013/12/villaverde-cabral.html
A APRe! põe em causa as declarações de Manuel Villaverde Cabral solicitando-lhe que defina o que são pensões milionárias e pondo em causa o conhecimento que tem (pelo menos deveria ter para se pronunciar) sobre os associados da própria APRe!. Sem querer restringir a questão a uma polémica bilateral, acrescenta-se que a APRe! representa, claro, os seus associados , mas pelos seus estatutos obriga-se a promover a participação dos reformados, aposentados e pensionistas nas políticas públicas. É uma importante missão, que Manuel Villaverde Cabral não pode desvalorizar. Pode, claro, defender, que sociologicamente, a composição dos associados da APRe!, não coincide com a dos reformados, pensionistas e aposentados em geral. Mas deve comprovar com elementos concretos. Mas mesmo que consiga demonstrar a sua afirmação, com dados concretos, reconhecerá sem dúvida que o conjunto dos deputados no nosso Parlamento, do ponto de vista sociológico, não é nada semelhante ao conjunto da nossa população. E se formos a ver o Governo? Dirá talvez que essa é uma razão de peso a contribuir para os maus governos que temos tido.
Por razões práticas, é muito difícil, senão impossível, constituir um conjunto representativo de um universo populacional, ficando o primeiro com uma composição idêntica ao segundo. Só em universos muito pequenos, e em condições extremamente favoráveis, seria possível haver alguma semelhança entre os dois. E, em qualquer caso, seria preciso ter em conta, que a maioria das pessoas reage de maneira diferente em situações diferentes. Estas realidades têm de ser levadas em conta, tanto ao nível nacional e internacional, como no campo associativo e até familiar. Mas em qualquer caso não se pode menosprezar o papel do movimento associativo e dos restantes movimentos sociais na vida política e da sociedade em geral, com alegações de falta de representatividade, que se sabe que só seriam ultrapassadas em condições ideais. Ir por esse caminho é afastar as pessoas dos processos da decisão política, tanto para os apoiar como para os contestar. Não por desprezo aos partidos políticos, como terá dito Salazar (citado por Manuel Villaverde Cabral), que até os proibiu. Mas por desalento e sentimento de impotência. Os novos emigram, e os velhos? Que sugerem Manuel Villaverde Cabral e o Instituto de Envelhecimento? Fazer ciência e fazer política são coisas diferentes, é verdade. Mas uma não dispensa a outra, mesmo nas universidades.
(A Viagem dos Argonautas)