Uma Indignidade

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Como outros associados da APRe, tomei conhecimento pelos meios de comunicação social do texto da entrevista dada pelo Doutor João César das Neves em 16 de Novembro de 2013 e sobre o teor dessas declarações só posso manifestar o mais vivo repúdio e a maior indignação. Despudoradas declarações!
Certamente que o Doutor João César das Neves, professor da Universidade Católica, católico praticante, economista com nome na praça, não pode concordar que pensões abaixo dos 1000 € faça alguém rico ou mesmo que as pensões entre os 1000 € e os 2.500 € autorize a chamar multimilionários a esses pensionistas. E não pode desconhecer que mais de 75% dos reformados deste país, recebam menos de 750 €/mês. Como se percebe estou a falar de gente riquíssima que finge cada vez que vai ao supermercado, ao médico ou que tem de comprar o passe. Embora estes pensionistas não se intitulem pobres, são-no e não estão a fingir. Sobretudo o que eles dizem e reclamam, e é do conhecimento público, é que tendo descontado para auferirem essas pensões, estão hoje na mira do governo como a fonte de financiamento mais regular e segura, isenta de contrapartidas, e rapidamente conhecerão dificuldades porque o seu empobrecimento tornar-se-á inevitável e tenderá a aumentar. 
A solução não passa pelo empobrecimento que o Doutor Neves propõe nem pelas opções impostas pelo governo. A única alternativa admissível é exigir que o valor das pensões mais baixas seja igual ao valor do salário mínimo nacional, que o salário mínimo nacional seja aumentado como já foi acordado em sede de concertação social e que as pensões mais baixas não sejam sujeitas a nenhuma taxação. Estou a referir-me obviamente a um conjunto reivindicativo mínimo sobre o qual deveríamos todos estar de acordo. Todos, os pensionistas, os que ainda estão no activo, os partidos que não estão no governo, as centrais sindicais. Todos. Deixou de haver espaço para ser observador.
As declarações indignas e o tom da entrevista não são admissíveis por mais inconciliáveis que sejam as posições que defendemos, os pensionistas e o Doutor Neves. Há linhas que não podem ser transpostas e, sendo-o, então, exigem ser veementemente denunciadas. As declarações do Doutor Neves só me surpreendem pelo tom, não pelo conteúdo o qual apenas faz jus a posições suas tomadas no passado. Na entrevista, pelo menos, não houve fingimento. 
Maria Luísa Cabral
18 de Novembro de 2013