No próximo dia 25 de março comemoram-se os 60 anos da assinatura do Tratado de Roma que criou a Comunidade Económica Europeia (CEE). O objetivo que presidiu à criação da CEE foi o da manutenção da paz na Europa e num Mundo ainda dilacerado pela Segunda Guerra Mundial, associado à criação de um mercado comum europeu. Da evolução da CEE nasceu a União Europeia (UE), a que aderimos em 1986. Em Portugal nunca ou pouco se falou desse objetivo da paz. A nossa entrada na UE foi principalmente vista numa perspetiva económica, e só lateralmente percebida na exigência de compreensão das civilizações, para manter essa paz.
Percebe-se hoje a mudança acelerada que ocorreu a partir da segunda metade destes 60 anos. Sente-se a globalização criada pela evolução tecnológica, aumenta a esperança de vida e com isso oscila o modelo social europeu, defraudando expectativas dos povos, cai o Muro de Berlim em 1989, dando o Mundo ao arbítrio do mercado sem regulação, falha especificamente o sistema regulador do mundo financeiro, aumentam as desigualdades, aumenta a insegurança laboral, gera-se insegurança física vinda de dentro, fica a nu a incapacidade europeia em fazer face à tragédia mediterrânica, usa-se o voto para destruir o modelo. O caso norte-americano é o mais recente de uma vaga de votos de protesto que está a eleger no Ocidente políticos populistas, que há não muitos anos se situavam nas franjas dos pensamentos políticos e sociais, com uma base popular limitada. E isso é obviamente perigoso.
Pois, é neste momento que a Europa tem que resistir aos extremos de tendência desagregadora, na perceção de que fora de uma união os europeus são absolutamente irrelevantes face à influência americana a Ocidente e russa, indiana ou chinesa a Oriente. É neste momento que temos de acentuar a necessidade do diálogo entre civilizações, desde logo dentro da Europa, o grande pote mundial de diversidade civilizacional, como forma de promover a paz e o desenvolvimento económico. É neste momento que mais faz sentido o projeto europeu.
Nesta instabilidade inesperada e violenta, creio na capacidade de regeneração reformista do nosso modelo democrático para inverter, com determinação e firmeza, este momento tão negativo do presente ciclo existencial da humanidade.
Prof. Catedrático, Reitor da Universidade do Porto
JN 24.01.2011
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