Agora em campanha eleitoral (ou pré-campanha, se preferirem a exactidão), perante tanta loquacidade política, parece voltarmos à mentira política. Ainda por cima, num pais em que a Opinião Pública, a existir, nunca se preocupou com a mentira.
Por exemplo: alguém se lembra de Pedro Passos Coelho a prometer este mundo e o outro na última campanha eleitoral? E alguém se deu ao trabalho de comparar o que fez com o que prometeu? Será possível ainda acreditar nele, e num programa eleitoral diferente do que o Governo tem feito? A coligação de governo teria algum voto, se o problema se pusesse realmente? E podemos admitir que depois de dizerem, há 4 anos, que nunca iriam usar a herança anterior como desculpa política, o que pensar dos que querem ir agora buscar a herança anterior, como se o mesmo governante se estivesse a recandidatar pelo PS? Já para não falar em destacados dirigentes da maioria que apareceram na TV a dizer que não tinham lido o programa eleitoral da coligação, mas a defenderem-no com unhas e dentes – como se isso fosse natural.
Nunca concordei com os teóricos da necessidade da mentira política ou diplomática. E vemos hoje as opiniões políticas mais avançadas do mundo ocidental (não falo agora de Portugal, mas de outros países mais evoluídos) a despedirem políticos apanhados a mentirem.
Julgo ser muito oportuno aquele ditado moralista, segundo o qual ‘se não vives como pensas, acabas por pensar como vives’. É o que sucede com os mentirosos: de tanto mentirem, acabam por acreditar nas próprias mentiras, arredando-se cada vez mais da verdade – e da realidade.
Anna Harendt, a filósofa (do tempo em que as Universidades cumpriam o seu papel, e formavam filósofos, não querendo ser apenas profissionalizadas), escreveu sobre a mentira política nos anos 60, criticando-a. É realmente urgente fugirmos da mentira e dos mentirosos, que acabam a acreditar nas suas mentiras. A única mentira aceitável, e mesmo assim só se não houver outro meio de resolver um problema pelo melhor, é a chamada ‘mentira piedosa’, quando assim é consensualmente considerada.
Opinião Sol 08.08.2015