Apesar de esta frase ter um erro ortográfico, optei por selecioná-la, pelo seu conteúdo e, até, por já não existir – o muro, junto ao Chapitô, na Costa do Castelo, foi novamente pintado de branco.
Há, pois, diferentes tipos de opinião. Há as que enriquecem o nosso conhecimento, que nos apontam novas linhas de pensamento, que nos despertam para aspetos em que não tínhamos pensado e levam a nossa reflexão mais além. Há, também, opiniões irrelevantes, que de nada servem e apenas causam «ruído», nada acrescentando para além do prazer egoísta do seu autor ao ouvir o seu eco. Há ainda outro tipo de opiniões: as que se tornam ofensivas para os outros. Sobre estas pode-se afirmar que, na realidade, mais valia serem guardadas para o próprio, em vez de serem partilhadas. Nestes casos, como afirma Sophia de Mello Breyner Andresen: «Nunca choraremos bastante»…
É óbvio que cada um tem direito a ter a sua opinião e, efetivamente, todos nós refletimos constantemente sobre os assuntos e as pessoas que nos rodeiam. No entanto, o que, por vezes, é abusivo é a expressão pública de opiniões que deveriam ser privadas. Até porque, como diz Afonso Cruz: «A incerteza faz parte da mecânica quântica, a dúvida faz parte do cosmos, da sua essência, e o melhor que temos são probabilidades. Mesmo que fôssemos o demónio de Laplace e conhecêssemos todas as variáveis, a indeterminação existiria sempre como raiz do próprio universo.» Ora, a exposição pública das opiniões dá-lhes uma visibilidade e notoriedade que, muitas vezes, não merecem, por não terem qualidade suficiente para serem veiculadas na rádio, na televisão, nos jornais, nos cafés, em voz alta…
Por vezes, as pessoas ficam-se por uma reflexão acrítica e superficial das situações e emitem opiniões sem pesar os vários fatores, sem considerarem as diferentes perspetivas, sem analisarem, a fundo, as várias situações que contribuem para determinado facto, e que, desse facto, levam a um acontecimento concreto. E é bem verdade que, como diz Fernando Pessoa: «O esforço é grande e o homem é pequeno».
É por isso que, como diz o ditado, «vozes de burro não chegam ao céu»!
Maria Eugénia Leitão
jornal Sol 12.07.2017