Numa altura em que necessitávamos de ser governados por pessoas que tivessem um visão prospectiva para o País, que pensassem o que queremos para o Portugal do futuro, somos governados por pessoas que só pensam no imediato, não apresentando uma única visão para o futuro, nem transmitindo qualquer esperança de futuro aos portugueses.
A única visão de futuro que temos, é a da continua degradação das condições sociais e económicas do país. A actual politica resume-se a efectuarem cortes nos vencimentos, cortes nas reformas, cortes na saúde, cortes na educação, cortes nos direitos de quem trabalha e o aumentos de impostos. Por isso é uma lufada de ar fresco ouvir a entrevista que o Professor Adriano Moreira que concedeu à TVI24, na qual apresentou um conjunto de ideias muito claras sobre o presente e o futuro de Portugal, das quais realçamos algumas.
Disse o Professor: “Querem acabar com o Estado Social. A resposta: não há dinheiro. E a segunda pergunta: e princípios? (…) quem hoje toma decisões são pessoas em que a grande parte só pode adquirir a sua formação académica porque tínhamos Estado Social, que era alimentado pelos pagamentos dos que hoje são velhos”, interrogando-se sobre o porquê da sociedade portuguesa, em particular, e o mundo, em geral, se terem tornado tão dualistas, pondo sempre em oposição duas realidades contrastantes, perspectivando uma comunidade onde de forma crescente o “credo de mercado” tem vindo a substituir o “credo de valores”.
“Há um discurso constante a atacar ou contrariar o convívio entre velhos e novos, empregados públicos e empregados privados, como se o pluralismo, que Portugal também tem, não tivesse um cimento que é a comunidade de afectos”. Para Adriano Moreira, este problema não é exclusivo de Portugal, perspectivando que mantendo-se o rumo político, a Europa no seu conjunto poderá vir a sofrer graves consequências, defendendo que a política de cortes é mais extensa do que possa parecer à primeira vista.
“Já não chega a opressão do corte de pensões, de salários, etc. É que cada vez são mais severas as punições pecuniárias. É isto que eu chamo o neoliberalismo repressivo, porque aquilo que não pode vir dos impostos, vem do aumento das multas, vem do aumento dos preços de consumo das coisas. (…) Esse tem sido, a meu ver, o principal erro”, concluiu.
Sobre o futuro, o Professor mostrou-se preocupado com a paz na Europa e o projecto europeu, ambos em risco de ruir. «Esse tem sido, a meu ver, o principal erro. É que o credo mercado está a substituir o credo dos valores».
Inconformado com o facto do programa de Governo se resumir praticamente ao Orçamento do Estado, Adriano Moreira aponta para o futuro próximo do país duas janelas de liberdade: a CPLP e a plataforma continental.