Almaraz em causa

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Não é preciso ser um ambientalista para ficar alarmado com a central nuclear de Almaraz.

A Renascença revelou ontem que o Exército português fez, em 2010, uma simulação sobre a central nuclear espanhola de Almaraz. Supondo que teria havido uma grave acidente na central, 800 mil pessoas em Portugal poderiam ser afectadas pela nuvem radioactiva.

No entanto, segundo a oficial major Ana Silva, “o problema não é tanto o que resulta da exposição imediata à radiação, mas, sim, os efeitos que se podem manifestar caso a exposição seja prolongada”.

É certo que a simulação foi realizada a partir do cenário mais perigoso, com uma probabilidade de ocorrência muito baixa. Mas suscita preocupação, dado que Almaraz fica junto ao rio Tejo e perto da fronteira portuguesa.

Suscita também perplexidade. A Autoridade Nacional de Protecção Civil não conhece esta simulação do Exército. O estudo foi apresentado aos técnicos de Almaraz, que parecem haver concordado com ele. Mas não existe planeamento luso-espanhol e muito menos exercícios conjuntos dos dois países para enfrentar uma possível catástrofe nuclear a partir de Almaraz.

Não é preciso ser um ambientalista para ficar alarmado. Tanto mais que o Ministério português do Ambiente deu um parecer favorável a um relatório da Agência Portuguesa do Ambiente que não se opôs à construção de um armazém de resíduos nucleares em Almaraz.

E tudo indica que será prolongada da vida desta central, que já deveria ter sido encerrada há pelo menos dez anos.

Francisco Sarsfield Cabral