Ninguém no seu juízo perfeito pode olhar para estes anos como anos de sucesso. Não foram. Para uma grande maioria dos portugueses, o resgate foi o começo de um calvário que parece não ter fim.
Dispararam o desemprego, a dívida pública, as falências. Há mais idosos sem qualquer tipo de apoio. O rendimento social de inserção caiu drasticamente. Muitas crianças só nas cantinas escolares encontram forma de matar a fome. A pobreza toca hoje quase 30% dos portugueses. E outros tantos só resistem à conta dos parcos apoios que ainda são mantidos. Os salários minguaram para compor os cofres do Estado. Os jovens emigram. Não é uma lengalenga: é o país. Não estamos melhor. E dificilmente estaremos.
Mas à coligação ainda restavam dois argumentos de peso, daqueles que verdadeiramente tocam uma sociedade modorrenta. Mantras que funcionam, se bem repetidos. Os socialistas enterraram o país e chamaram a troika. PSD/CDS fizeram o caminho das pedras. Puseram as contas direitas. A reza, velha e relha, é: a Direita tem contas certas, a Esquerda gasta.
E sobra ainda o outro fator nas eleições que se avizinham, este mais fundamental do que o primeiro. A incerteza. O Governo estava, com sucesso aparente, a colocar esse ónus no Partido Socialista, que agora passou para a maioria. É o que se chama desperdiçar o ativo da credibilidade. E esse, que era apenas uma ilusão, esfumou-se.
Dificilmente os portugueses olharão com credibilidade para uma Carta de Princípios carregada de adversativas e condicionais, como a que a coligação apresentou. Sem uma ideia nova, sem um ar de esperança. Enquanto lançam farpas às propostas do PS, os líderes do PSD e do CDS esquecem-se que ideias sujeitas à crítica são melhores do que o vazio. Anunciar cortes nas pensões com palavras vagas é fazer estremecer o eleitorado mais conservador e menos adepto das mudanças. Perder onde a lógica indicaria ser fácil somar pontos.