Soube hoje pelos jornais que a comissão que vai estudar o apoio ao envelhecimento activo não inclui associações de reformados.
Pior do que um erro, trata-se de um reflexo da ideia de um assistencialismo implícito dos “novos” aos “velhos”, da inércia de um equívoco que contamina a própria ideia generosa de o combater. Para estimular o dinamismo dos “velhos” começa-se por pressupor a sua passividade.
Não se trata de pôr os “velhos” a jogar às escondidas ou ao berlinde, de os pôr a dançar o vira ou a fazer ginástica, a cantar modas antigas ou a fazer desenhos. Trata-se de estimular a auto-organização dos “velhos” de modo a assumirem um protagonismo próprio. Se eles quiserem jogar ao berlinde ou dançar o tango, tudo bem. Se lhes apetecer , pelo contrário, representar Gil Vicente ou cantar o fado, nada a opor. Se preferirem declamar Camões ou jogar à “sueca”, excelente. Se quiserem reunir-se para defenderem os seus direitos, muito bem. Se decidirem juntar-se para fazer passeios, nada a a opor. Se quiserem ajudar-se mutuamente, numa reciprocidade solidária, óptimo.Mas não queiram levá-los pela mão como meninos grandes.
Não inventem um senado grave de circunspectos “novos” que se proponham desenhar com minúcia ( quiçá com a melhor das intenções) o que eles cogitam que os “velhos” devem fazer para serem considerados activos e preencherem os objectivos alegadamente “científicos”que entendam fixar-lhes.
Dêem-lhes protagonismo desde já, desde o início.
De facto, qualquer comissão que, não incluindo os “velhos”, se ocupe da congeminação do que eles devem fazer para serem considerados activos será sempre uma fábrica de envelhecimentos passivos.
Por isso, é legítimo gritar-se: abaixo o activismo das passividades!
Rui Namorado