Cortina de fumo

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AINDA A CORTINA DE FUMO 
“Não deixa, aliás, de ser sintomático que tenhamos assistido a uma mordidela colectiva do isco. Todas as críticas se centraram numa medida injusta e que é, de facto, mais um “aumento brutal de impostos”, mas que agora é dada como sendo “facultativa”, enquanto se secundarizava uma outra, que prevê cortes bem mais significativos de rendimentos.” 
Pedro Adão e Silva, Expresso, 18.05.2013 
Não é demais sublinhá-lo. Se a subtileza não é, seguramente, uma das “qualidades” do (des)governo, os seus “spin doctors” demonstram tê-la sobejamente, enquanto tudo indica que escasseia entre as suas vítimas. A observação de PAS não requer um génio especial. O que ele afirma é evidente desde a noite de Domingo, 5 de Maio, em que PP encenou aquela pantomina perante as câmaras de televisão. E, dos gritos de vitória, que também os ouvi por aí, embora de pouca dura, ao vociferar sobre as “contradições” do dito, a populaça deixou-se “enrolar”. A golpaça destinou-se a encobrir uma outra medida bem mais rentável e menos onerosa eleitoralmente: os cortes retroactivos nos aposentados da CGA. E mesmo que os ultra-fanáticos do (des)governo vissem com maus olhos o abrir mão da primeira, convinha-lhes que a segunda passasse despercebida. Daí que dessem luz verde para aquela encenação. E fizemos-lhes a vontade: lestos na denúncia das “contradições”, caímos como patinhos. 
Reafirmo a minha convicção (cfr. um texto da passada 2ª feira), não de que a chamada TSU dos pensionistas não será adoptada (o que não posso excluir), mas de que PP, e o CDS, abandonarão o governo nessa eventualidade. Mas o mesmo já não posso afirmar de uma medida equivalente (o trânsito da actual CES para 2014, sobre o qual PP não se pronunciou) e sobre os cortes retroactivos nas pensões dos aposentados, medida sobre a qual o CDS foge a pronunciar-se com a necessária clareza (enquanto espera para ver em que param as modas). Caso uma ou ambas estas medidas venham a ser adoptadas, nada obriga PP a abandonar a coligação. Quero dizer: nada do que disse o obriga a tal. Como nada o obriga, abandonando a coligação, a negar no parlamento o apoio suficiente para que o (des)governo se mantenha em funções. Quanto ao vidente de Belém, só a Senhora pode dizer o que fará. 
Por isso, relembro o que já por algumas vezes tenho afirmado. Constitui um erro colossal continuar à espera que outros nos salvem da tragédia a que, inexoravelmente nos conduz a actual (des)governação. Seja o PR, seja PP e o CDS, seja até o TC. Só o povo se pode libertar a si próprio. É sobre nós que recai a responsabilidade de pôr termo à actual situação. Resistindo, resistindo ainda. Radicalizando a resistência. Construindo a alternativa. A alternativa que poderia garantir que as eleições fossem o ponto de viragem para a renovação e fortalecimento do regime saído de 25 de Abril. Pode ser que elas cheguem antes e, de certa maneira, ainda bem, porque pior não é possível. Mas, nesse caso, elas não constituirão a solução por que todos ansiamos. Pacientemente, a luta terá que continuar.
Luís Gottschalk