Hoje de manhã deixámos o nosso filho no infantário. É a sua primeira vez no pedaço. Correram bem os minutos iniciais. Circulou pelo espaço como se o conhecesse, aproximou-se das outras crianças, entrou em casinhas, subiu ao escorrega e deixou-se ir, confiante como um atleta olímpico medalhado. Há pouco soubemos que está sereno. Não gritou pela mãe, pelo pai, pelos avós. Ou pelo Ruca.
A circunstância leva-me a outra. O pensamento pousou enquanto me debruçava na montra ainda desolada de uma pastelaria, neste lento arranque de Setembro. O primeiro dia num lar. Hoje fomos nós que deixámos o nosso filho de dois anos num infantário. Um dia poderá ser ele a deixar-nos num lar. Sem desapego ou egoísmo. Apenas porque, como nós em relação a ele, não conseguindo manter-nos em casa, acha melhor estarmos acompanhados.
O pensamento não chega com pianos dolentes. Vem como projecção. Nunca havia matutado no assunto. Desenrolo a pergunta: caso seja esse o nosso destino, como será o nosso primeiro dia num lar? Revelaremos o mesmo talento do nosso filho em interagir com outros, em passear pelo recinto como se fosse nosso? Não sei. Mas, agora, gostaria que assim fosse. E que o nosso filho depois ligasse e nos soubesse felizes, como se ali tivéssemos morado durante toda a nossa vida.
Sábado Opinião 11.09.2016