E AGORA FALO EU!!

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Desculpem-me o desabafo, mas a proximidade das férias conduz-me para um texto levezinho. Ei-lo:

Não gosto do termo “envelhecimento activo”! E pronto, está dito! Dá ideia que até aos 65 anos estamos todos a enjuvenescer e que de repente pumba!, cai-nos a velhice em cima, e a partir daí é um ver se te avias para ver se nos tornamos velhinhos saudáveis. Não penso assim. Eu, que passei a vida a envelhecer (e a vida é, como se sabe, uma doença mortal) fi-lo (ou tentei fazê-lo) duma forma consistentemente saudável, sem excessos em excesso (o pleonasmo é propositado) porque também, se assim não fosse, a vida era uma chatice! Dir-me-ão: “Então e aqueles que levam uma vida monástica e de repente “vão-se”? “Bom”, poderia responder, “se o não tivessem feito, se calhar teriam “patinado” muito mais cedo…”. Isto para dizer que, a haver o tal “envelhecimento activo”, ele se processaria logo a seguir ao nascimento (e quiçá, antes!).

Mas voltemos ao tema: então como chamar à fase pós reforma, pós 65, ou pós-laboral, ou o que entenderem? Não sei (se estavam à espera de algum esclarecimento iluminado, este é o momento da desilusão)! O que eu sei é que, numa fase de menor actividade, e em que não vamos para novos, manter o cérebro e o físico em funcionamento nos poderá manter mais saudáveis e participativos (mas por favor não me dêem como exemplo aqueles espectáculos em que um número indefinido de idosos se põem a bater palminhas a compasso de uma qualquer música, com um olhar absorto como que a dizer “quem sou, o que faço aqui?”).

E isto leva-me ao tema que gostaria de partilhar com os meus co-idosos, que se dão ao trabalho de ler as linhas deste vosso criado: dei por mim, aqui há cerca de um ano, a inscrever-me numa Universidade Sénior; na altura, achei que seria interessante aprender mais umas coisas, e partilhar os meus parcos conhecimentos com os meus iguais: as expectativas não eram muito elevadas e portanto a desilusão nunca seria grande; mas eis que sou completamente surpreendido pela realidade: a quantidade e qualidade dos conhecimentos aí encontrados, quer entre os professores, quer entre os “coleguinhas”, é enorme! E pensei: “Meu Deus!” (nesse dia tornei-me crente…), “como nos podemos dar ao luxo de desperdiçar tanta sabedoria?” (e falo de sabedoria, e não de conhecimento, que são coisas totalmente distintas…): são vidas cheias de aventuras e desventuras, de alegrias e tristezas, de altos e baixos, que resultam naquilo que ali está: e é essa sabedoria que aplica o conhecimento que me fascina! Nesta “escolinha” (falo da ACTIS – Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra), uma entre muitas no país, aprendem-se (ou relembram-se, ou falam-se, ou discutem-se) as mais variadas matérias, desde Línguas (Espanhol, Inglês, Latim), Manualidades (Encadernação, Pirogravura, Cerâmica), vários tipos de Ginástica (Tai-Chi, Yoga, Alongamentos, Manutenção): são cerca de 70 professores e 650 alunos!!

Apre!, que é obra!!

É claro que alguns vão “apenas” pelo convívio, afastando-se da solidão do lar; alguns inscrevem-se para fugir ao desespero do isolamento (há casos de inscrições em “não importa que matérias”, apenas porque querem estar com alguém com quem possam falar, partilhar a alma, ouvir outras vozes): e não consigo imaginar melhor forma de, como na expressão que não gosto, “envelhecer activamente”.

Luiz Cabral