Em ti, Dijsselbloem, está o que está em todo o lado, o sexismo que nas tuas palavras põe alimentos e mulheres no mesmo cesto e toda uma visão heteronormativa do mundo.
Em ti, Dijsselbloem, está, no entanto, especificamente, o desprezo pelo outro, a vontade de aniquilar esse outro, num olhar de moral calvinista, a vontade de varrer da Europa quem tens por miseráveis.
Em ti, Dijsselbloem, está, afinal, a vontade ativa de ignorar as causas da crise dos países europeus, está afinal o que sempre esteve, uma ética punitiva a aplicar aos boçais do sul entre os quais também habitam os que durante muito tempo validavam o teu discurso acusando-nos de vivermos “acima das nossas possibilidades”.
Em ti, Dijsselbloem, está a prova de que a xenofobia e o racismo, a extrema-direita, infiltraram-se nos partidos que se dizem, como o teu, “sociais-democratas”, para vitória de quem quer pregar, precisamente, a segregação em vez da união, o tal do desprezo pelo outro que te sai pela boca.
Em ti, Dijsselbloem, está a o norte e o sul, os “fundadores” e os “servidores”, com pronta ajuda do ministro das finanças alemão (era para o país dele que falavas, quando vomitaste?).
Desengane-se quem diz que só está em causa uma clivagem ética e moral e não, também, uma clivagem ideológica.
Vi quem escrevesse que seria assim, por ter sido um homem “de esquerda” a dizer o que disse. Acontece que Dijsselbloem representa precisamente o fenómeno de desmaterialização da esquerda (que felizmente não aconteceu em Portugal). É um homem que há muito dá mostras de pertencer ao campo da direita austera, arrogante e moralista.
Justamente o que é extraordinário é ver a extrema-direita crescer nos seus partidos formais e esticar os ramos para dentro de outros partidos e através deles para instituições europeias.
Foi o caso do partido trabalhista holandês, que lá fez o seu caminho tendo um Dijsselbloem à sua frente, à frente do governo e à frente do Eurogrupo, que não disse uma única palavra verdadeiramente diferenciadora do discurso da extrema-direita e que morreu nas últimas eleições.
Quem não morreu foi a extrema-direita.
Em ti, Dijsselbloem, ouvimos o que destrói (e já destruiu) a Europa.
Isabel Moreira