A proporção de pessoas idosas está a aumentar em todo o mundo, quando comparada a população em idade ativa. Portugal não foge à regra, estimando-se que um em cada cinco portugueses tenha 65 anos ou mais. À margem da conferência “Medicina Humanizada- Envelhecimento ou Longevidade” que decorreu no passado dia 21 de março, e que teve como objetivo debater os desafios do envelhecimento, o Atlas da Saúde esteve à conversa com o Professor Júlio Machado Vaz que destacou a discriminação dos mais velhos como um dos “calcanhares de Aquiles” deste processo, referindo que é preciso investir em melhores cuidados e fazer uso da Inteligência Artificial para cuidar e acompanhar os mais velhos.
Júlio Machado Vaz |
Em menos de dois séculos, a esperança média de vida subiu de menos de 30 anos para mais de 71 anos, em 2018. A esperança média de vida dos portugueses situa-se, hoje, nos 81 anos. No entanto, isto não significa que estejamos a envelhecer bem… o que falta fazer para que consigamos envelhecer com qualidade?
No que toca a anos de vida, Portugal está a par dos países nórdicos, mas a qualidade de vida dos nossos idosos, sobretudo nos seus últimos anos, não é semelhante à desses países. Para tal contribuem vários factores:
Por um lado, o envelhecimento não é percecionado com um processo decorrente de práticas ao longo da vida, muitas das quais podem ser controladas pelas próprias pessoas, dando origem a estilos de vida mais saudáveis com os respectivos benefícios para a fase mais adiantada da vida. Envelhecer bem, sem prejuízo das variáveis que não controlamos é um investimento em nós próprios… desde jovens!
Por outro lado, a medicina ainda está muito focada no paradigma da Cura, típico do século XX e das doenças infecciosas (queixa, diagnóstico, tratamento, problema resolvido), quando o envelhecimento global da população nos exige aperfeiçoar as competências para o Cuidar, obrigatório em presença de doenças crónicas não transmissíveis, com as suas frequentes polimedicações. É claro que o objetivo de curar se mantém, mas o envelhecimento e as doenças crónicas exigem uma maior aposta em formas de garantir o bem-estar e a longevidade com qualidade dos doentes. Isto faz-se através de cuidados continuados de qualidade, da valorização dos Cuidados Primários, de pequenas unidades de saúde em articulação com outras valências e as Comunidades e da transformação dos cidadãos em “produtores de saúde” e não meros receptores de cuidados.
Ver entrevista aqui: envelhecimento principal desafio é viver muitos anos com qualidade
Sofia Esteves dos Santos
ATLAS DA SAÚDE – 26.03.2019