Há quatro anos, num momento pré-eleitoral como este, uma série de gestores, púbicos ou privados, funcionários de bancos e professores universitários, economistas ou não, apareciam na televisão e em outros meios de comunicação social para anunciar o desastre caso o país não pedisse um resgate a instituições financeiras internacionais e mudasse de vida. A movimentação foi, de facto, de massa. O país tinha de viver com o que tinha, implementar políticas novas chamadas genericamente de reformas estruturais, deixar de investir em infraestruturas consideradas desnecessárias, diminuir o peso do Estado, baixar salários, reformar pensões, mudar leis de rendas, alterar leis laborais, pois sem isso tudo estaria condenado à desgraça. O governo mudou, veio outro com todo o poder de uma maioria absoluta, o memorando de entendimento com a troika de credores teve portas abertas, veio o resgate financeiro, salvaram-se os bancos, baixaram-se salários, mudaram-se as leis que era dito ser preciso mudar, reduziu-se o peso do Estado em pessoas e despesas, e o que aconteceu? O que mudou? Alguns acham que mudou muito mas todos têm dificuldades em apontar as mudanças substanciais. As novas leis do trabalho foram acompanhadas – e isso é inquestionável – por menos e não mais emprego; a lei das rendas trouxe fecho de lojas e nada fez à mobilidade da força de trabalho; a redução do peso do Estado levou a menores défices públicos mas a mais dívida pública em percentagem do PIB; as privatizações trouxeram redução de empresas, novos detentores de rendas e nada mudaram no tipo de investimento; as exportações subiram em percentagem do PIB, porque este desceu, mas quase nada em valor e volume; e a estrutura da economia quase nada mudou, ainda menos do que havia mudado na década anterior. E não só. Claro, os sinais negativos podem sempre ser acompanhados por alguns sinais positivos. Mas quais? Os que se vêm estão associados a velhos problemas, pois o ligeiro crescimento económico está a ser acompanhado pelo regresso de desequilíbrios, na balança externa, no endividamento e no aumento do consumo, daquele consumo que nos levará novamente a essa invenção teórica nacional do “viver acima das possibilidades”. E onde estão todos aqueles que diziam que era preciso fazer o que foi feito para agora analisar as consequências do que foi feito? Onde estão os economistas dos debates de há quatro anos? Na verdade, aquilo que vemos é que tão boas ideias tiveram muitos defensores antes de serem aplicadas e, agora, que foram aplicadas, nenhuns defensores têm. Será por razões políticas, pois afinal não acreditam no actual governo? Será por cansaço? Será porque acham que o que foi feito não foi suficiente e por isso afinal estão desiludidos? Ou será porque, afinal, quatro anos de experimentalismo deram uma pequena lição de história, a lição que faltava para se confirmar que as economias são algo de mais complicado do que parece, que as economias da periferia de uma união monetária precisam, afinal, de uma análise mais profunda? É por isto que acho que o Governo do país deve mudar e deve mudar em força. Houve muitos erros, muitos mesmo, erros que podem ser revertidos – por quem neles não acreditou – e quanto mais cedo melhor. Simplesmente.
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