Fechadas as urnas e contados os votos das eleições regionais francesas, abriu-se champanhe Europa fora e celebrou-se a derrota (?) da Frente Nacional como se esta fosse absoluta e estrondosa. Não foi! E, perdoe-se-me a arrogância ou sobranceria, só espíritos simples podem diagnosticar o contrário. É verdade que face à expetativa criada na primeira volta, a extrema-direita não conquistou o poder em nenhuma das 13 regiões eleitorais e só nesse parâmetro se aceita que haja um suspiro de alívio quase inebriado. Todos os outros sinais são, porém, altamente preocupantes. O partido da senhora Le Pen não saiu vergado ou de mãos vazias destas eleições. Pelo contrário, triplicou a votação obtida nas regionais de 2010 ultrapassando a fasquia dos seis milhões e meio de votos, conseguindo o seu melhor resultado de sempre. Os socialistas do Presidente Hollande foram copiosamente derrotados e os republicanos de Sarkozy, beneficiando da desistência da esquerda nas regiões onde ficou atrás da direita, acabaram por ser os vencedores da votação com sete regiões conquistadas. Já a frio e sem euforias tolas que não há razões para ter, convém que a Europa em geral e a França em particular reflitam sobre o porquê desta cedência dos eleitores à xenofobia e ao fascismo. Sim, em democracia fazem-se escolhas. Mas é bom que todos tenhamos consciência de que as opções que tomamos têm consequências que, muitas vezes, extravasam as fronteiras das nossas comunidades. As opções políticas assumidas pelos principais líderes franceses, os escândalos sucessivos em que se viram envolvidos e o arrefecimento económico e as elevadas taxas de desemprego com reflexo nas principais periferias urbanas conduziram ao descrédito dos partidos tradicionais. Ao mesmo tempo, a política financista europeia que despreza as preocupações sociais, com a cumplicidade dos governos dos estados membros, remeteu ao desespero e à desesperança dos cidadãos europeus. Pelo que este caldo político é propício ao crescimento dos fenómenos extremistas. Foi assim na Hungria, na Áustria e também em França. Desconfio, contudo, que nenhum dos principais líderes europeus se dedicará um minuto a refletir sobre o que está a acontecer. E temo que em França François Hollande e Nicolas Sarkozy continuem tristemente preocupados apenas com os seus dias de amanhã. É por isto que, ao contrário do que se viu, não há motivo para festejos. Apenas para ter medo, muito medo.
Nuno Saraiva
Opinião DN 16.12.2015