Para quem tenha algum curriculum de vida este não é um título estranho. Era o nome de uma série de meados da década de 1970 que inaugurou com muito sucesso um género que hoje é rei na televisão, o das minisséries.
É a história de dois irmãos nos Estados Unidos, um rico e um pobre, e dos conflitos entre os dois. O rico não consegue ser feliz apesar do dinheiro, até porque o pobre não para de lhe atazanar a vida, nomeadamente por amarem a mesma mulher.
E assim, em jeito de tosca parábola, se explica por que mesmo que os ricos sejam muito ricos não poderão deixar de ser “irmãos” de destino dos pobres e de como é tão verdadeira a conclusão do relatório da OCDE, que diz que o fosso entre ricos e pobres está a alargar-se e a travar o crescimento económico.
Os números, impressionantes, estão umas páginas à frente, e podemos constatar que Portugal, apesar de registar uma ligeira diminuição, mantém um registo deplorável como sétimo país mais desigual na lista de 30 da OCDE e como o país mais desigual no universo da União Europeia.
Um dos valores com peso político é o que nos diz que no pico da crise, entre 2009 e 2013, os 10% mais ricos viram o seu rendimento cair 8%, enquanto o dos 10% mais pobres recuou 24%. Dados muito longe de estarem em sintonia com a propalada distribuição equitativa da crise que o primeiro-ministro vem apregoado.
Outra frase, da mesma fonte, desmentida com vigor por este relatório é a de “nós sabemos que só sairemos desta situação empobrecendo”. Este empobrecer que se tem acentuado nas classes mais baixas reforça as desigualdades e para a OCDE não há dúvida de que “a desigualdade tende a influenciar negativamente o crescimento do PIB e é a distância crescente dos 40% mais pobres em relação ao resto da sociedade que está a contribuir para esse efeito”.
No “La Vanguardia”, Oriol Amat, professor de Economia em Barcelona, avançava algumas razões para que este fosso se continue a manter, mesmo que as economias cresçam e que bem se podem aplicar a Portugal: fiscalidade pouco progressiva; o fosso salarial entre os bem preparados para um mundo tecnológico e os trabalhadores indiferenciados, a recuperação dos mercados financeiros que só serve os detentores de grandes patrimónios; e os cortes nos serviços básicos, como os gastos em saúde e educação.
Era bom que os partidos que vão concorrer às próximas eleições dissessem o que vão fazer para diminuir o fosso entre ricos e pobres, não na busca de qualquer igualitarismo absurdo, mas na procura de uma sociedade saudável para todos. Até porque, convém lembrar, o irmão pobre da minissérie era lutador de boxe e dava-se com gangsters, o que não será muito tranquilizador para o irmão rico.