Crentes ou não crentes, bem precisamos de boas novas.
Portugal vive, há sete anos, a mais longa e magoada Quaresma da nossa geração. A chaga do desemprego – que por sua vez gera pobreza, miséria, exclusão e insegurança – é o espinho mais doloroso deste calvário.
Mais de um milhão de portugueses aptos a trabalhar continuam sem emprego, logo sem salário. É um em cada cinco e, pior ainda, um em cada três entre os mais novos. E todos temos casos: na família, entre os amigos, na vizinhança.
Lembrarão alguns que o problema, mais do que português, é europeu. Quase 25 milhões de desempregados, sobretudo no Sul, dão já o rosto à agonia de uma esperança que os principais líderes europeus, os nossos incluídos, teimam em negar-lhes: uma União Europeia fundada na solidariedade e na coesão social.
Razões outras, mas também fortes, tornaram sombrios e enlutados os nossos últimos dias. Foram-se-nos um poeta, um economista, um cineasta – três portugueses entre os maiores nas suas artes e saberes. Por entre a multiplicação de obituários pesarosos, lemos em cartaz que “isto não é um país, é um velório”. Mas há, nas mortes de Herberto Helder, José Silva Lopes e Manoel de Oliveira, o ficar da memória que contraria aquela ironia e nos traz sinais de esperança. É que, doravante, há seguramente mais portugueses a saber quem eles foram e porque foram grandes.
De Oliveira ainda ficámos a saber que, confrontado por João Botelho sobre como se pode fazer cinema com tão poucos recursos, respondeu-lhe o mestre: “Se não há dinheiro para a carruagem, filma-se só a roda. Mas filme-se bem a roda!”
E porque hoje é domingo, e de Páscoa, é tempo de procurarmos vencer esta dormência emocional e darmos ouvidos e força às palavras e aos gestos de esperança que, decerto, encontramos nos nossos caminhos. Um povo que vem de tão longa Quaresma não pode, nem deve, fechar portas ao compasso anunciador.