O futuro é agora

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Eu vi a história de outra forma: Pedro Mota Soares, ministro da Segurança Social, não desmentiu Maria Luís Albuquerque, ministra das Finanças, depois desta ter admitido a possibilidade de o Governo cortar nas atuais pensões. Quando muito, ficou aborrecido por ter conhecido por uma colega a estratégia do Governo para a área que ele tutela. E nem sequer fiquei impressionado com a tentativa da própria Maria Luís de corrigir o tiro, dois dias depois, envolvendo o PS num negócio que os socialistas já tinham dito ser impossível. Fumaça.

A ministra das Finanças não se descaiu. Comunicou foi em primeira mão ao país aquilo que lhe vai no pensamento. Aquilo que, desconfio, o próprio Mota Soares e a cúpula do Governo acreditam ser uma inevitabilidade: envolver as pensões em pagamento no esforço para tornar sustentável o sistema de Segurança Social. O que se passou depois foram manifestações públicas de aparente embaraço para controlar danos eleitorais. Aliás, convém recordar que, há mais ou menos um ano, Maria Luís Albuquerque e Pedro Mota Soares estiveram de acordo quando aprovaram um corte permanente nas pensões, através da contribuição de sustentabilidade. Medida que só não foi avante porque o Tribunal Constitucional não permitiu.

Propor aos pensionistas mais sacrifícios é tão audaz quão suicida. Então num contexto em que os mais velhos foram chamados a amparar os filhos e os netos, soa até ofensivo. Por isso, tudo o que se diga, tudo o que se queira fazer e tudo o que se faça tem de obedecer aos princípios da seriedade e da honestidade. Não vender ideais românticos de difícil aplicação. Não escolher a estrada mais curta, punindo os que estão mais à mão.

Não há, porém, uma solução milagrosa. Apenas diferentes perspetivas. O PS prefere a via expansionista, convencido de que a criação de empregos e a estabilização de salários alimentam o sistema sem necessidade de massacrar os atuais pensionistas. O desabafo-aviso de Maria Luís Albuquerque parece sugerir que a maioria PSD/PP está mais inclinada para uma solução imediata, que implique cortes nos rendimentos. Mas há outros caminhos: reforçar, como sugere o economista Eugénio Rosa, o combate à fraude e evasão fiscal na Segurança Social, cujas dívidas rondam os 10 mil milhões de euros; ou criar uma solução plural, como admite Bagão Félix, fazendo com que pensionistas, ativos, empresas e cidadãos em geral contribuam.

Agora que entramos na fase pré-eleitoral em que nos violentam com programas de Governo, exige-se, numa matéria tão sensível como esta, que nos expliquem tudo direitinho, sem ceder à tentação de transformar um debate sobre o futuro de todos num confronto entre gerações.

Pedro Ivo Carvalho
Opinião JN 27.05.2015