Carlos Oliveira* |
Esse ambiente acabou por facilitar uma nova vaga de políticas sociais em que a pobreza deixa de ser vista como uma falha individual, mas como uma falha coletiva, das quais o RSI foi uma das principais bandeiras.
Nunca deixou de existir, no entanto, a visão que culpa os que vivem à margem da sociedade por todos os problemas da mesma. É uma lógica falaciosa na qual é fácil cair, sobretudo quando uma pessoa deixa de se sentir confortável com a sua posição socioeconómica, mas que durante anos teve pouca tração no debate político português.
Tanto o governo de Durão Barroso como o de Passos Coelho cederam de alguma forma a esta lógica de moralização dos beneficiários do RSI, fazendo reformas ao RSI para que este fosse para quem “realmente precisa”. Contudo, essas alterações parecem ter sido mais ideológicas do que pragmáticas.
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Atualmente o que existe é uma dicotomia acentuada no debate público. Um lado ataca de forma superficial o RSI e as pessoas que dele beneficiam, caracterizando-as como pessoas que “não querem trabalhar” e que “vivem à custa do trabalho dos outros”, ou como pessoas que não precisam realmente. O outro lado submeteu-se a esta linha de argumentação, limitando-se a defender a existência do RSI como um meio de subsistência para aqueles que vivem no limiar da pobreza, mas aceitando de certa forma a caracterização populista que é feita dessas pessoas, e abdicando de pensar no RSI como uma verdadeira política de integração social e no seu futuro.