OS HERÓIS NÃO MORREM…

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(…) vós sois o sal da terra;
O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando
a terra se vê tão corrupta como está a nossa,
havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, 
ou qual pode ser a causa desta corrupção?
Ou é porque o sal não salga, ou porque 
a terra se não deixa salgar.

(Padre Antônio Vieira em: “O Sal da Terra”.

Poderia eu não dizer nada sobre tal assunto, uma vez que sobre ele já jorrou muita “tinta”; baralhou

muitas ideias e ajustou outras, dividiu opiniões judiciosas por diferenças doutrinárias, agoniou o estado de espírito de muitos e saciou o entendimento defeituoso e mórbido de outros; porém, eu não posso ficar quedo perante a voz da minha consciência, se não vomitar o que me vai na real gana, porque, no monte de muitos milhares de revoltados, eu sou um deles e não me é alheio que por vezes o bom senso é infectado pela salubridade apodrecida de egocêntricas exibições.

Se assim não fosse, jamais teriam sido impressas as palavras tão depreciativas e deprimentes “a nossa Pátria foi infectada pela já conhecida peste grisalha“.

Pode ter parecido, a quem as redigiu, que elas não iriam ter um eco tão retumbante e que certamente ficariam dissolvidas pelo meio do palavreado inserido no artigo “Portugal de cabelos brancos”. O facto é que isso não aconteceu; antes pelo contrário, promoveu um levantamento de indignação e revolta na “velhada” que deixou marcas profundas de indignada tristeza, razão pela qual essas palavras ainda hoje são recordadas e certamente ficarão na fila dos raciocínios penalizados pela censura, que ficarão a fazer parte do pasto da história; não como um louvor à inteligência, à sensatez, mas como uma sentida reprovação da “grisalhada”, direccionada a uma desvalorizada consideração latente em algumas cabeças da nossa, vá lá… “fidalguia”, onde o nível de raciocínio anda, e não era esperado andar, abaixo do da “plebe”.

Entre os que defenderam com unhas e dentes a integridade, em seu nome e em nome de todos os grisalhos deste país, espadeirando com a coragem sagaz, fria e costumeira da sua análise e a força severa e precisa da sua pena, contra as garras da afronta, houve uma figura que se destacou pela audácia com que lutou contra a lógica depreciativa daquelas célebres palavras, minadas pela infelicidade analítica de quem as escreveu.

É a essa figura de trato simples mas de opiniões austeras que vagueia no nosso “rebanho” colectivo, e que em consequência da sua luta na defesa honradez, dos “peste grisalha” deve merecer todo o nosso apoio, uma vez que os “lobos”, salivando de raiva, lhe querem desmembrar a razão, com recurso à trama do nosso sistema judicial, que é frágil para uns e intransponível para outros, devido à subjectividade existente na sua interpretação regulamentar.

É pois, a este “Crónico cronista”, que há muitos anos vagueia no mar imenso do dos caracteres ortográficos, fazendo deles o seu florim de esgrima em defesa do que pensa não estar dentro da ética e do civismo, que eu quero, em meu nome e em nome e em nome – se me é permitido – de todos os elementos da “peste grisalha”, aquilatar os meus elogios.

…Porque os heróis não morrem mas ficam para a história, esta criatura tem um nome: António Figueiredo e Silva.

Dixit.

António Valente
(Escultor)
Coimbra, 2/12/2015

Nota da administração do blogue: O Sr. António Figueiredo e Silva, é o autor da carta intitulada “A PESTE GRISALHA” (carta aberta a um deputado do PSD), que tinha como destinatário o deputado Carlos Peixoto, autor da célebre frase “A nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha”, e que está a ser em julgado no Tribunal da Comarca de Gouveia, acusado de Crime de Difamação Agravada, por ter escrito a referida carta.