É uma sociedade doente a que não arranja soluções adequadas para acolher os mais velhos. Só pode ser elogiado o trabalho que está a ser feito para retirar dos hospitais quem já teve alta clínica mas não tem para onde ir, porque não tem quem o possa receber ou porque faltam as condições à família, ainda que o deseje, para levá-lo para casa. Os hospitais estão cheios de doentes com idade avançada – é natural, os anos gastam os nossos corpos, deixam-nos mais frágeis e as maleitas aproveitam para se instalar. Mas os hospitais existem para tratar doentes, não para servir de abrigo. É mais do que justo garantir o acolhimento destas pessoas em casas onde estejam acompanhadas – com cuidados continuados, se estão doentes, com condições para um dia-a-dia de normalidade se não têm problemas graves de saúde. Em muitas situações, seria bastante – poderia mesmo ser muito melhor – dar apoio aos familiares para que pudessem recebê-los. É uma boa notícia, portanto, o acordo entre os ministérios da Saúde e da Segurança Social, envolvendo as instituições de solidariedade social para reservar lugares aos chamados “casos sociais”. Não se trata apenas de uma questão de custos de saúde, é um problema de todos nós. A diretora-geral da Organização Mundial da Saúde, Margaret Chan, falou esta semana em Genebra sobre o verdadeiro tsunami do aumento da demência, “uma prioridade de saúde pública à escala mundial”. Nas suas diferentes formas, afeta 47,5 milhões de pessoas agora, será o dobro dentro de 20 anos. “Não me lembro de nenhuma outra doença que envolva tão profundamente uma perda de funções cognitivas, uma perda de independência e uma necessidade gritante de cuidados”, disse. Mais: “Não vejo nenhuma outra doença que imponha um fardo tão pesado sobre as famílias, as comunidades e as sociedades.” Aí está um problema, relacionado com o envelhecimento crescente, que deve ser pensado já.
Os mais velhos
Ana Sousa Dias
Opinião DN 27.03.2015