Para onde vai o SNS?

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Dois estudos recentemente divulgados demonstram como vai mal o SNS. Um inquérito respondido por mais de 800 médicos internos revelou que 81% dos jovens médicos consideram que o panorama da prática médica em Portugal piorou muito ou extremamente nos últimos anos, que 65% ponderam emigrar e que 22%, se soubessem o que sabem hoje, teriam escolhido outra profissão.

Um outro inquérito, efetuado a todos os médicos e com mais de 3000 respostas, demonstrou que 80% dos médicos do SNS consideram que as reformas no setor público já afetaram a qualidade dos cuidados prestados aos doentes, 40% dos médicos afirmaram que nas respetivas instituições existem faltas recorrentes de material com prejuízo do exercício da profissão, 50% afirmaram que o abandono de terapêuticas aumentou devido a dificuldades económicas dos doentes, 50% dos médicos urologistas e oncologistas revelaram haver mais dificuldade no acesso a medicações inovadoras, etc. Outra realidade preocupante é o facto de 60 a 70% dos médicos do setor público referirem sensação de esgotamento. Os médicos do setor privado relatam problemas algo semelhantes.

Estes dois estudos, que, pela gravidade dos seus números, vale a pena ler na íntegra, evidenciam a verdade com bases científicas, contrariando o romance oficial escrito pelo Ministério da Saúde de que quase tudo vai bem ou ainda melhor no SNS.

Afinal, por que é que o SNS está pior? Porque sofreu cortes excessivos, bem acima do proposto pela troika.

Efetivamente, em Portugal, a despesa pública em Saúde é apenas de 5,9% do PIB, muito abaixo da média da OCDE, de 6,7%! Os portugueses, apesar de empobrecidos, são obrigados a pagar 37% das despesas em saúde diretamente do seu bolso, um dos valores mais elevados da OCDE.

Deixo um desafio formal e defino um padrão aos partidos que se candidatam às próximas eleições para que assumam o compromisso de investir na Saúde, em despesa pública, o mesmo que a média dos países da OCDE, ou seja, mais 0,8% do PIB português, cerca de mais 1400 milhões de euros por ano.

Se isso acontecer, para satisfação de profissionais e doentes, teremos um SNS robusto, sustentável, de qualidade e cumprindo os seus preceitos constitucionais.

Em Portugal, a despesa pública em Saúde é apenas de 5,9% do PIB, muito abaixo da média da OCDE, de 6,7%!

José Manuel Silva
Opinião JN 12.06.2015