POR UM PLANO DE EMERGÊNCIA FACE A UM ACIDENTE NUCLEAR EM ALMARAZ

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Segundo documentos da Autoridade Nacional de Proteção Civil, “em Portugal não existem centrais nucleares para produção de energia elétrica, pelo que não existe o risco de ocorrer um acidente nuclear com graves consequências.” Referenciando a existência de um reator de fraca potência operado pelo Instituto Tecnológico e Nuclear, concluem que, neste caso, “as consequências de um eventual acidente nuclear ou radiológico serão limitadas à área contígua às respetivas instalações.”

Esta filosofia é entretanto acautelada face à “existência de centrais nucleares no resto da Europa e em particular em Espanha, (…) a utilização de energia nuclear em engenhos espaciais (satélites) e a circulação de resíduos radioativos”. Mas a referência cautelar reduz-se à possibilidade de “reflexão e ponderação sobre a conveniência de se vir a dispor de ‘Planos de Emergência Especiais’ para enfrentar os riscos ou a ocorrência de acidentes provocados, eventualmente, por qualquer das origens referidas.”

Por aqui se fica a posição do Estado Português através da sua Autoridade Nacional de Proteção Civil. No mínimo, esperava que esta disposição à “reflexão e ponderação” tivesse tradução prática perante o fundamentado alarme produzido pelo prolongamento da vida da central de Almaraz, pelos muitos incidentes registados e pela construção do armazém para resíduos.

O nosso país não possui conhecimento técnico-científico estruturado nem capacidade operacional de emergência de proteção civil, face à eventualidade de um acidente nuclear em Almaraz. No entanto, o sistema de proteção civil possui planos de emergência nacionais e municipais para riscos de acontecimentos adversos e é óbvia a necessidade de se apetrechar com um plano de emergência especial.

Um plano que simule os vários graus de intensidade de um acidente que resulte na projeção de material radioativo para o exterior. Para cada grau de intensidade, será possível estabelecer cenários de transporte e deposição por via atmosférica do material emitido e, também, cenários de deposição e transporte na bacia hidrográfica do Tejo e dos impactos diretamente transmitidos ao rio. Um plano de emergência que defina a organização do sistema operacional, as medidas de emergência de proteção civil e as orientações para as populações.

O Tejo é a situação mais preocupante pois é um veículo “certo” de contaminação e transporte da poluição radioativa emitida em Almaraz. Por seu lado, a atmosfera é um veículo de resposta mais complexa. Depende da situação meteorológica no dia e dias seguintes à emissão radioativa. Embora com um número de dias relativamente baixo, comparativamente com a circulação atmosférica do quadrante oeste, podemos ter uma situação de vento do quadrante leste em qualquer estação do ano. Teremos de considerar também as condições de movimentos verticais na camada baixa da atmosfera. Os movimentos descendentes provocam deposição no solo e os ascendentes contribuem para o transporte em altitude dos poluentes e para a sua deposição a maior distância da fonte emissora. Também de considerar se há precipitação pois, havendo, conduzirá a uma deposição mais próxima e rápida.

As catástrofes de Fukuchima e Chernobil são orientadoras quanto aos comportamentos da atmosfera no transporte e deposição dos poluentes e quanto aos impactos nos habitats e nos ecossistemas.

Manuel Costa Alves

Meteorologista
Jornal Reconquista opinião 19.01.2017