Primeiro, veio a Sofia. Fez a pergunta. Depois, a Patrícia. Repetiu a pergunta. O João, o Paulo. A Marta. A mesma inquietação: e se formos para fora, temos emprego garantido? Condescendi: os bons terão sempre emprego. Mas, naquela feira das profissões, os adolescentes pareciam menos preocupados em dar resposta a uma natural crise de vocação e mais interessados em aprender o caminho mais curto para sair do país.
Não era a inocência própria da idade, não era sequer o caso de estarem a projetar circunstancialmente conversas que tinham escutado em casa ou na sala de aula. Não era o ímpeto aventureiro. A pergunta que todos me faziam deixava transparecer uma verdade que já se instalara na cabeça deles. Uma inevitabilidade que eles não parecem questionar, inebriados que estavam (que estão) com esse chamamento externo. Percebi depois: Portugal não é pequeno de mais para estes jovens pré-universitários, Portugal tornou-se apenas num meio para chegar a um fim: emigrar. Todos conhecem uma história, todos têm alguém que foi. Uma tia, amigos mais velhos, um primo que, garantem, já não volta. Tudo lhes parece igual. E normal. Sair para ter futuro. Eles falam e ouve-se o eco desta cantilena.
Os números mais recentes das Nações Unidas dizem tudo. 2015 fechou como o pior período de sempre em matéria de emigração. Uma sangria ainda mais expressiva do que a verificada nas décadas de 60 e 70. Estima-se que cerca de 2,3 milhões de portugueses vivam foram do território. Mais 10% do que há seis anos. Grande parte deste país que se espalha de forma tão massiva pelo Mundo já não volta. Os que vão são cada vez mais os qualificados (veja-se o perfil do emigrante no Reino Unido e na Noruega, por exemplo), jovens no auge das potencialidades, que se fixam, que formam família. Jovens que levam o investimento educacional neles feito pelo país, jovens que vão pagar os impostos fora.
Ainda assim, vemos o tema pouco debatido. O “tema”. Não devia haver outro. A ferida aberta pelos anos de austeridade tem de ser cicatrizada depressa. Não é com programas de atração como o VEM (apenas 21 portugueses regressaram para fazer negócio) que vamos lá. Precisamos de emprego, de crescimento económico, de estabilidade laboral. Mas precisamos, sobretudo, e isto não depende de governos nem de ciclos económicos, que se faça pedagogia nas escolas junto dos candidatos a emigrante. É preciso que este país valha a pena para eles. Mas também é preciso que eles percebam que este país é para eles. Que precisamos que eles fiquem. Quem melhor do que os professores para lhes mostrar que podem sonhar com o Mundo inteiro a partir de casa? Até sou capaz de arriscar um slogan: “Portugal é para mim”. Mexam-se: ainda vamos a tempo de salvar a próxima geração.