Transcrevemos a reflexão de uma ex-jornalista do Público, Graça Barbosa Ribeiro sobre os dados divulgados pela SIC relativos à pandemia, publicado na sua página no Facebook.
Imaginem que nos diriam que durante as próximas semanas se despenharia diariamente um avião com cerca de 90 pessoas, em Portugal (para falar, só, do que nos é mais próximo).
Que não tínhamos maneira de saber se nesses aviões iriam familiares, amigos nossos.
Que sabíamos que todos os dias teríamos imagens do acidente, do socorro, notícias do choque de quem perdeu os seus, dos velórios, dos funerais.
Que para atender a esses acidentes diários os serviços de socorro e de saúde deixariam de socorrer pessoas. Que poderiam ser nossas amigas, familiares.
Termos dificuldade em imaginar isto ou, pelo menos, em sentir isto como uma tragédia, como algo próximo, fala-nos de um processo de banalização da morte que tem crescido desde Março ou Abril.
O que era inimaginável tornou-se rotina, quase invisível.