Raquel Varela, desmascara a manipulação da informação sobre número de activos por cada pensionista

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Uma mentira. Antena 1, a rádio pública que oiço, pela qualidade, diz, algures no meio das notícias, em jeito de informação/anúncio que: “Em 1974 havia 5 activos por cada pensionista, hoje há 1,5. Esta é uma informação Pordata”. Não sei se isto é pago como anúncio mas aparece como informação. Hoje a população activa é de 5,3 milhões e há 2,5 milhões de pensionistas por velhice, ou seja, há mais de 2 activos por cada pensionista por velhice. O Pordata é um Portal da Fundação Francisco Manuel dos Santos, do Pingo Doce, fundação privada que se criou justamente na defesa da ideia de que temos idosos a mais para a sustentação da segurança social. Estas contas que apresentam são de uma engenharia simples – ou retiram da população activa os desempregados – coisa que nenhum sistema de estatística oficial em país algum do mundo faz – ou acrescentam às pensões de velhice todas as outras, incluindo as de alimentos, por exemplo, ou ambas, e assim chegam a este número surreal de 1,5 activos por cada pensionista. Esta, a nossa, é uma informação do grupo de estudos do trabalho que coordeno, na FCSH -UNL, uma universidade pública, que naturalmente deveria ter sido consultada antes de uma rádio pública divulgar estes números. Já agora, se forem ao próprio Pordata vão descobrir que nunca Portugal teve tanta população activa como hoje, desde logo pela entrada em massa das mulheres no mercado de trabalho.

É claro que temos um problema no país sério e ele é de quem governa e quer privatizar a segurança social e saquear os pensionistas para remunerar capitais privados mas também temos um problema óbvio de propaganda que passa por informação indónea, verificada e onde o princípio do contraditório raramente é respeitado.

Adenda: este número, errado, também explica pouco porque a produtividade do trabalho é 5 vezes superior à de 1970, isto significa que hoje 1 trabalhador trabalha por 5, ou seja, podemos ter muito mais reformados e a segurança social contínua a ser sustentável sem aumentar a idade, pelo contrário, deve ser reposta a idade de 60 anos e 36 anos de descontos bem como a diminuição para profissões de desgaste intenso, como trabalho por turnos, etc. Podemos ter 5 reformados por cada activo! O que não podemos é ter 1 milhão e meio de desempregados ou salários miseráveis em que quem trabalha não consegue descontar para aqueles que já trabalharam.

Raquel Varela