Reformular a Zona Euro?

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Recordemos que a moeda única não foi uma ideia alemã: foi uma (má) ideia francesa. Inteligentemente, os alemães fizeram-se caros.

Tentemos fazer um esforço e esquecer por algum tempo todo o foguetório produzido pela eleição de Macron à presidência francesa. Falemos da realidade e não de ilusões.

Será que poderemos esperar da sua acção uma reformulação profunda do funcionamento da Zona Euro, tal como ele próprio prometeu?

Tenho as maiores dúvidas. A Zona Euro funciona como funciona não por acaso mas porque as suas regras foram estabelecidas de acordo com os interesses alemães. Recordemos que a moeda única não foi uma ideia alemã: foi uma (má) ideia francesa. Inteligentemente, os alemães fizeram-se caros e aparentando muito custo na concordância com a criação do euro, só aderiram porque foi aceite a sua exigência de que a governança da Zona Euro fosse feita segundo regras semelhantes à zona do marco e que, nas palavras do chanceler alemão da altura, o euro fosse “uma moeda tão forte como era o marco”

Os alemães ganharam em toda a linha e a Europa perdeu e perdeu muito. Os ganhos alemães não foram só económicos, embora estes tenham sido impressionantes, eliminada que foi a concorrência aos produtos alemães por parte dos outros estados da Zona Euro em consequência da adopção de uma moeda forte. Houve também – e de que maneira – ganhos políticos, tornando-se a Alemanha o estado dominante na União, muito para além do que a sua dimensão populacional, a sua dimensão económica e o seu poderio militar justificariam.

Estará o/a chanceler que subir ao poder depois das eleições germânicas com disposição para atender um presidente francês arranjado à pressa, sem apoios sedimentados, com um programa nebuloso e concordar com ele que as regras da Zona Euro devem ser alteradas – subvertendo normas impostas em 1992 por uma Alemanha muito menos forte do que a actual?

Por mim, não apostaria…

João Ferreira do Amaral