Tem sido um fartote de ceias de Natal oferecidas a sem-abrigo. E quase sempre para além da centena. Ele é empresas, ele é grupos de amigos, ele é associações, ele é iniciativas de ocasião. Tudo a dar bacalhau e rabanadas a quem tem a rua como casa. É meritório? É. Melhor isto do que nada? Sim. É preciso anunciar aos quatros ventos e pedir fotos, notícias? Não. A não ser que seja necessário para que fiquem mais compostas as consciências de quem considera que tempo de Natal é oportunidade para fazer boas ações. Lembra-me a história do menino que obrigou a velhinha a atravessar a rua para ficar bem visto. Dar ceias 15 dias antes da consoada é o quê? Uma forma de dizer que se ajudou, que se matou a fome, que se foi… caridoso? E no dia propriamente dito? No dia do nascimento de Jesus? Ficam no seu conforto, à volta da mesa farta, quiçá a contar pormenores da ceia para sem-abrigo onde estiveram há uma ou duas semanas. E os sem-abrigo na rua a recordar o belo cheiro que vinha de mesas postas e a ouvir o ronco da fome. Se calhar, a coisa correria melhor se distribuíssem umas embalagens herméticas para as sobras. Apontem.
Margarida Fonseca
Opinião JN 19.12.15