“Há que investir nos profissionais das áreas social/cultural e da saúde e promover formas de resiliência comunitária. Não o podemos fazer se continuarmos a privilegiar a precariedade laboral e os salários baixos.”
A pandemia por covid-19 revelou e exacerbou o problema da solidão nas nossas sociedades. Da solidão das pessoas que vivem sozinhas, mas também daquelas que não vivem sós, das que estão afastadas dos familiares e amigos, designadamente dos emigrantes, dos idosos que residem em lares, das crianças e adultos que se encontravam já confinadas e confinados em instituições, ou das pessoas que estavam hospitalizadas. Ou ainda da solidão das vítimas de violência doméstica, que no confinamento encontravam menos recursos para lutarem contra este flagelo.
E também a solidão das famílias que subitamente se encontraram sem rendimentos para ter o que colocar na mesa à refeição. Da solidão das trabalhadoras e trabalhadores da cultura e de outros sectores marcados pela precariedade e pela informalidade, que foram, em grande medida, abandonadas/os pelo Estado neste ano difícil. Mais do que nunca, tomámos consciência de como a solidão afectava já grande parte de nós, embora por vezes de forma mascarada. Com a pandemia não foi mais possível esconder nem mascarar esses sentimentos.
*Doutorada em Sociologia; investigadora do Centro de Sociologia Económica e das Organizações (SOCIUS), Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), Universidade de Lisboa