Esta é a Europa que geriu a crise financeira, provocada pela dívida dos estados, mas primordialmente pelos problemas estruturais do euro, com um discurso sobre os “bons gestores do Norte” contra “os preguiçosos gastadores do Sul”, que castigou com programas depuradores de austeridade que revelaram todas as suas limitações na situação em que se encontra a Grécia.
Onde a política deveria ter conseguido encontrar caminho para o debate das soluções possíveis que garantissem o essencial, a manutenção do projeto europeu, imperou o discurso económico que agora divide um continente entre “devedores” e “credores”, surgindo Portugal, estranhamente, pelas palavras do nosso primeiro-ministro, no grupo destes últimos.
Com posições extremadas nos últimos meses, ambos os lados acumularam inabilidades e incompetências que só levaram a aprofundar trincheiras e a tornar mais difícil explicar aos respetivos eleitorados que é possível sair desta crise respeitando regras, que fazem de cada país abdicar de parte da soberania em nome de um bem comum e onde, apesar dos erros próprios, deve continuar a vigorar o principio da solidariedade.
Não há hoje quem não perceba os enormes riscos que corre não só o euro mas a própria União Europeia se nos limitarmos à aritmética simples do 18=19-1. Mas aproximam-se eleições em Portugal e muito especialmente em Espanha que, com o respaldo da Alemanha, se podem tornar estupidamente mais importantes que o destino da Europa. Como poderão os “bons alunos” e o rigoroso professor aceitar alternativas viáveis para uma Grécia reforçada politicamente pelos resultados do referendo se isso implicar explicar que há mais vida para além da austeridade e que o cemitério está cheio de soluções únicas?
O sim de Mário Draghi do “farei tudo para salvar o euro” foi um momento clarificador em termos económicos e a esperança era que o “não” grego ajudasse ao regresso da política e das lideranças capazes de ver para lá do ciclo eleitoral e dos interesses nacionais. Mas falta gente com sentido de história que perceba que um continente que gerou duas guerras mundiais nos últimos 100 anos tem tudo para que não queiramos que corra tudo mal outra vez.
David Pontes
Opinião JN 07.07.2015