Um país da treta, politicamente correcto

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Só em Portugal é que o patriotismo bacoco se julga engrandecido por ter um ex-político que finalmente assume a sua faceta de vendedor do templo.

Só em Portugal é que há rodriguinhos para criticar a decisão, altamente condenável do ponto de vista ético, de Durão Barroso ir para o Goldman Sachs. Só em Portugal é que o patriotismo bacoco se julga engrandecido por ter um ex-político que finalmente assume a sua faceta de vendedor do templo. Só em Portugal é que alguém que critique Durão Barroso por aceitar ser “chairman” de um banco de investimento que ajudou a derrotar a Europa é considerado ressabiado e invejoso. Só em Portugal é que quem tem vergonha de ver um português nestas andanças é considerado um traidor.

Lá por fora, sucedem-se as críticas ao comportamento do ex-presidente da Comissão Europeia, críticas cada vez mais indignadas e cada vez mais violentas. E não, não é porque queriam lá um francês, um espanhol, um dinamarquês ou um alemão. É porque toda a gente percebe que Durão não tem os méritos que o seu séquito apregoa que tem, porque toda a gente sabe que aquilo parece o que é, uma traficância. E sabendo isso, sabem também que este é mais um prego no caixão dos burocratas de Bruxelas. Mas não são apenas eles a sofrer com esta decisão, é também Portugal que se desprestigia, quando se julga a marcar pontos.

Por cá, o Presidente diz que gosta, o primeiro-ministro cala-se e a esquerda critica. É mesmo da treta este país, que transforma uma questão ética grave num jogo entre a esquerda e a direita. Politicamente correcto é, neste caso, o mais baixo grau da política.

Paulo Baldaia
Opinião TSF