Segundo alguns jornais, estima-se que em 2050, com o envelhecimento da população, cerca de 135 milhões de pessoas sofram de algum tipo de demência e percam a sua autonomia e, de certa forma, a sua “independência”.
Roland Mager dizia que “quem não sabe para onde quer ir não se deve admirar de chegar aonde não queria”. No fundo, o que isto quer dizer é que temos de ter um “GPS” e seguir um método rigoroso com raciocínio lógico, como primeiro passo para o caminho que nos pode levar à descoberta de uma solução para qualquer problema.
Para quem estudou o sistema nervoso e sabe o que são as áreas de Brodman, em que praticamente tudo está mapeado com as funções perfeitamente determinadas (3, 1, 2 somatossensível), (5 e 7, somatopsíquica), (19 e 31, tactil-gnósica), (17, visão ) etc., etc., não parece difícil perceber que a única questão que falta resolver é saber como gravar na nossa memória todo um conhecimento já adquirido, guardá-lo em arquivo e retirá-lo quando necessário. Mas há doenças que colocam em causa esta operação que, por vezes, até desaparece.
Mas duas questões se colocam: a primeira é guardar a memória do que vai acontecendo (presente), a segunda é arquivar a memória do passado. Claro que a primeira é mais difícil, porque requer mecanismos de informação totais e permanentes sem circuitos deteriorados, o que implica, primeiro, retardar a questão do envelhecimento; segundo, levar um tipo de vida que permita resguardar, o mais tempo possível, todos os órgãos vitais e manter durante muito tempo um equilíbrio homeostático, que o mesmo é dizer funcional-orgânico.
Para que isto seja possível, obviamente teremos de ter uma medicina preventiva – e não, como actualmente, apenas e tão-só curativa –, mas na base dela está, como é óbvio, a prática do desporto para todos que, como o nome diz, terá de ser para todos.
Vem tudo isto a propósito do desafio lançado pelo Reino Unido (RU) para a solução de problemas até agora insolúveis, estabelecendo um prémio de 12,2 milhões para uma solução capaz de mudar o mundo.
A resposta para o problema, ou seja, a solução está no não envelhecimento das células ou na gradual e progressiva substituição (total) das mesmas. Admitindo que tal será possível, como já foi anunciado, em 2050, levantam-se aqui várias questões puramente académicas, como dizia Malthus: não haverá alimentos para tanta população, já que a vida se poderá prolongar até aos 120 a 150 anos. A idade de reforma só poderia ser perto dos 120 anos (agora 67) e toda a organização social teria de ser revista.
Acresce dizer que as guerras são saneadoras para purificar as gerações vindouras, pois limpam os maus costumes e, normalmente, moldam uma geração mais compreensiva e tolerante, menos exigente e com um desejo ardente de construção de uma paz no futuro.
O homem, o maior predador à superfície da Terra, só aprende à custa da experiência vivenciada por ele próprio – não aprende com a experiência dos outros. Por isso se perde tanto tempo e tantos recursos num desperdício que só prejudica a humanidade.
O pensar de uma forma lógica, o pensar numa perspectiva histórica ou o pensar de um forma pragmática pode, cada um de per si, indicar três tipos diferentes de sociedade, ou de sociedades diferentes com também diferentes organizações sociais, com filosofias de vida díspares que podem digladiar-se, dando origem a uma nova ordem e a uma nova sociedade, aniquilando outra que desapareceu porque não estava preparada para o combate ou porque manifestamente não percebeu que se tratava de uma guerra existencial.
Está na hora de a Europa perceber isto e de escolher qual o caminho que quer trilhar, porque o futuro está aberto a todas as opções, mas há um dado que os actuais políticos europeus ainda não perceberam: é que as pessoas querem viver, agora, já, melhor do que vivem, e se tal não for a bem, certamente será a mal.
Temos para nós que a obrigação de qualquer estado de Primeiro Mundo, ou seja, civilizado, é ter uma política avançada no que toca à visão prospectiva, que o mesmo é dizer preparar o futuro de todos, prevendo, prevenindo e intervindo para evitar situações de ruptura social, com o caos instalado.
Era isto que seria desejável, mas temos dúvidas que tal esteja em curso, dado que o povo português sempre confiou demasiado em Fátima como solução para os seus problemas, ou seja, acredita e espera sempre que haja um milagre, mas aqui do que se trata é de poder temporal e não espiritual, até porque, oficialmente Portugal é hoje um estado laico…
Mário Bacelar Begonha
Sociólogo
Jornal I 04.11.15